Neste que parece ser o tempo de Barack Obama, faz todo o sentido voltar atrás no tempo, como o canal franco-alemão ARTE tem feito recentemente, e analisar o extenuante caminho da raça negra para se afirmar enquanto cidadãos na América racista dos séculos XIX e XX.
Se longe vão os tempos da escravatura oficial ilustrada na conhecida série «Raízes», os combates de Luther King ou de Malcolm X são elucidativos quanto a duas vias possíveis para chegar à efectiva conquista dos direitos de cidadania.
Seja pela via das palavras proferidas em discursos ou cantadas nas marchas através das ruas e das estradas do Sul dos EUA, seja pela via directa da confrontação física com os símbolos do poder branco, todos os caminhos tiveram sentido para agora se encarar com naturalidade a possibilidade de um negro se ir sentar no cadeirão da Sala Oval da Casa Branca.
A imagem transmitida por Sidney Poitier nos filmes dos anos 60. 70 e 80 também contribuíram para isso. Se calhar o Black Power tinha alguma razão, quando o acusava de personificar a única imagem de negro passível de ser aceite pelos preconceitos racistas: à excepção da cor da pele, os seus personagens agiam e pensavam como qualquer branco.
Mas não é outra forma de racismo essa reivindicação de uma ideologia negra?
Os limites do Black Power foram exactamente esses: os de transplantar para um mero discurso sobre a cor da pele o que era e continua a ser uma mera questão de luta de classes.
Nesse sentido o discurso de Martin Luther King, se expurgados dos seus argumentos teológicos, continuam perfeitamente actuais. Porque o sonho do pregador de Atlanta continua a ser o de uma sociedade em que as discrepâncias entre ricos e pobres não sejam tão óbvias. Em que a educação e a saúde sejam um direito para a maioria, senão para todos.
Não deixa de ser paradigmático que a chegada de Obama à Casa Branca aconteça precisamente quando a União Europeia aprova e implementa uma legislação racista, que pretende deixar à margem, segregada no seu gueto continental, vastas populações de cor negra, cuja lógica global assenta em procurar melhores condições de vida aonde sabe que as há.
Nesse sentido, e a exemplo do ocorrido na segunda metade do século passado nos Estados Unidos, talvez faça falta um líder dos emigrantes, que tenha a estatura moral e cívica de um Luther King. Talvez faça falta - sobretudo em Itália, aonde o governo de Berlusconi está mesmo a pedi-las - um tipo de motins como os já conhecidos em Paris, quando Sarkozy era ministro do Interior. E, se tivesse a importância da indústria de Hollywood, seria bom que o cinema europeu pegasse no tema da segregação racial e encontrasse o seu próprio Sidney Poitier.
Nesta fase histórica em que o capitalismo vive uma das suas crises existenciais mais intensas, voltam a fazer sentido alguns dos mais pertinentes valores, que estiveram na origem da crescente afirmação da raça negra nos Estados Unidos. E esses são os de uma esquerda que se dissocia da herança leninista de um partido totalitário e centralista, para se manifestar através de um movimento plural em que diversos intervenientes se respeitam nas suas diferenças, mas coincidem nos seus valores fundamentais.
Nesse sentido talvez faça bem ao Partido Socialista abrir mais as portas do diálogo com quem aposta numa sociedade mais justa.
Se longe vão os tempos da escravatura oficial ilustrada na conhecida série «Raízes», os combates de Luther King ou de Malcolm X são elucidativos quanto a duas vias possíveis para chegar à efectiva conquista dos direitos de cidadania.
Seja pela via das palavras proferidas em discursos ou cantadas nas marchas através das ruas e das estradas do Sul dos EUA, seja pela via directa da confrontação física com os símbolos do poder branco, todos os caminhos tiveram sentido para agora se encarar com naturalidade a possibilidade de um negro se ir sentar no cadeirão da Sala Oval da Casa Branca.
A imagem transmitida por Sidney Poitier nos filmes dos anos 60. 70 e 80 também contribuíram para isso. Se calhar o Black Power tinha alguma razão, quando o acusava de personificar a única imagem de negro passível de ser aceite pelos preconceitos racistas: à excepção da cor da pele, os seus personagens agiam e pensavam como qualquer branco.
Mas não é outra forma de racismo essa reivindicação de uma ideologia negra?
Os limites do Black Power foram exactamente esses: os de transplantar para um mero discurso sobre a cor da pele o que era e continua a ser uma mera questão de luta de classes.
Nesse sentido o discurso de Martin Luther King, se expurgados dos seus argumentos teológicos, continuam perfeitamente actuais. Porque o sonho do pregador de Atlanta continua a ser o de uma sociedade em que as discrepâncias entre ricos e pobres não sejam tão óbvias. Em que a educação e a saúde sejam um direito para a maioria, senão para todos.
Não deixa de ser paradigmático que a chegada de Obama à Casa Branca aconteça precisamente quando a União Europeia aprova e implementa uma legislação racista, que pretende deixar à margem, segregada no seu gueto continental, vastas populações de cor negra, cuja lógica global assenta em procurar melhores condições de vida aonde sabe que as há.
Nesse sentido, e a exemplo do ocorrido na segunda metade do século passado nos Estados Unidos, talvez faça falta um líder dos emigrantes, que tenha a estatura moral e cívica de um Luther King. Talvez faça falta - sobretudo em Itália, aonde o governo de Berlusconi está mesmo a pedi-las - um tipo de motins como os já conhecidos em Paris, quando Sarkozy era ministro do Interior. E, se tivesse a importância da indústria de Hollywood, seria bom que o cinema europeu pegasse no tema da segregação racial e encontrasse o seu próprio Sidney Poitier.
Nesta fase histórica em que o capitalismo vive uma das suas crises existenciais mais intensas, voltam a fazer sentido alguns dos mais pertinentes valores, que estiveram na origem da crescente afirmação da raça negra nos Estados Unidos. E esses são os de uma esquerda que se dissocia da herança leninista de um partido totalitário e centralista, para se manifestar através de um movimento plural em que diversos intervenientes se respeitam nas suas diferenças, mas coincidem nos seus valores fundamentais.
Nesse sentido talvez faça bem ao Partido Socialista abrir mais as portas do diálogo com quem aposta numa sociedade mais justa.
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