quarta-feira, junho 18, 2008

Filme: «Citizen King» de Orlando Bagwell (2004)

Personalidade admirável a de Martin Luther King tal qual o retrata Orlando Bagwell nas duas horas de «Citizen King».
Orador dotado, o reverendo de Atlanta depressa compreende as virtualidades da resposta não-violenta para contrariar o segregacionismo, que humilha a população negra do Sul dos EUA. E multiplica-se em discursos, em marchas, em intervenções televisivas, em encontros com Kennedy ou com Lyndon Johnson para tornar possível essa Terra Prometida, que vira em sonhos, quando chegara ao cume da montanha.
Não admira que, quando morre ainda antes de completar 40 anos, o seu coração já parecesse o de um sexagenário. É que, quando um tiro o prostra na varanda do seu motel em Memphis, ele vivera anos sucessivos de stress, sempre em precário equilíbrio no fio da navalha…
Mas não é esse o condão de quem se arrisca a transformar-se em personagem histórico?

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De Abril de 1963, data da sua passagem pela prisão de Birmingham, Alabama, por ter apoiado uma manifestação pacífica contra a segregação e as violências raciais, até ao seu assassinato em Memphis, em 1968, os cinco últimos anos da vida de Martin Luther King correspondem aos do seu fulgor político.
Durante esse período de intenso activismo pela obtenção da aplicação dos direitos cívicos para os Negros americano, a América dos sixties anda em ebulição: a guerra do Vietname está no auge, os motins raciais multiplicam-se, o presidente Kennedy é assassinado e anuncia-se a libertação dos costumes.
O excelente documentário de Orlando Bagwell e Noland Walker focaliza-se na trajectória política do protagonista com grandes extractos das suas mais significativas intervenções e com testemunhos dos seus mais directos colaboradores.
O sucesso histórico da marcha a Washington na qual Martin Luther King pronunciou o seu célebre «I Have a Dream» conduziu o Presidente Lyndon B. Johnson a assinar a igualdade de direitos para os negros, colocando um fim à segregação racial nos Estados do Sul em 1964.
Nesse mesmo ano o carismático pastor de Atlanta obtém o Prémio Nobel da Paz, embora os motins dos guetos urbanos de Watts e de Chicago, em 1966, venham a pôr em causa a solidez da sua liderança.
A sua crítica à intervenção norte-americana no Vietname e a sua cada vez mais incisiva campanha em prol dos pobres e dos excluídos isolam-no de muitos dos seus apoiantes, tanto mais que, no pólo contrário, o Black Power critica a sua estratégia de não violência como sinónimo de fraqueza.
E ainda há a contar com o FBI de Edgar Hoover, que lhe escuta todos os telefonemas, o acusa de simpatias comunistas e o tenta enfraquecer com revelações comprometedoras sobre a sua vida privada.
Deslocando-se a Memphis para apoiar a greve dos trabalhadores da limpeza, Luther King é assassinado a 4 de Abril de 1968 no terraço de um motel.
Nessa altura ele já era um homem esgotado pelas lutas, fragilizado pelos ataques e as incompreensões, mas infatigavelmente apostado na justiça racial e social.

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