O santuário está ancorado solidamente nas memórias de infância.
Todos os anos repetia-se a deslocação das gentes da Trafaria e da Caparica para saudar a santa.
Pudera! Ano após ano, ela dava provas da sua influência miraculosa nas histórias de pescadores resgatados à morte quase certa nos bravios mares daquela vasta baía. A que começava precisamente ali o seu longo semicírculo e o concluía no estuário traiçoeiro do rio com o farol do Bugio a marcar essa fronteira.
Era um tempo em que a condição de pescador ainda marcava seriamente a identidade daqueles ocasionais peregrinos. E em que o santuário não se tinha ainda convertido naquelas ruínas esquecidas, que nenhuma promessa de restauração acaba por cumprir.
Nesse longínquo passado, a zona circundante ao rectângulo fechado num lado pela igreja, enchia-se de gente, que atirava moedas para a imagem gradeada na pequena capela vizinha e se multiplicava de espantos à beira do recorte das falésias.
Numa das pequenas lojas dos pisos térreos compraram-me o brinquedo de estimação de um Verão entediante: um pequeno cilindro com tampa de vidro dentro do qual duas balizas desafiavam uma pequena bola. Os grandes jogos, que então assim congeminei, invariavelmente ganhos pelo meu clube de eleição!
Nesse passado tudo me parecia enorme, a começar pela viagem entre Almada e o Cabo Espichel. Que se aproximava do conceito de aventura para mundos distantes…
Numa dessas visitas, e porque havia que gastar tempo até ao início da procissão, levaram-me a ver o farol. Que ainda quase cheirava a novo depois de remodelado...
As escadas até ao topo pareciam nunca mais acabar e as dimensões da lâmpada rotativa um autêntico prodígio da ciência.
Feliz inocência a desse miúdo de calções, que não imaginava a rapidez com que se lhe imporiam as mais duras realidades do país salazarento em que lhe coubera nascer. Porque estava a começar uma guerra em África, que adiaria por mais uns quantos anos a esperança de converter o país num espaço de decência, onde não existissem pides nem bufos, prisões políticas ou tribunais plenários.
Se sortilégio subsiste de um tempo mítico da infância, enquanto universo de recompensas, mais do que de castigos, o Santuário da Senhora do Cabo e o seu farol constituem dele um cenário privilegiado…
Todos os anos repetia-se a deslocação das gentes da Trafaria e da Caparica para saudar a santa.
Pudera! Ano após ano, ela dava provas da sua influência miraculosa nas histórias de pescadores resgatados à morte quase certa nos bravios mares daquela vasta baía. A que começava precisamente ali o seu longo semicírculo e o concluía no estuário traiçoeiro do rio com o farol do Bugio a marcar essa fronteira.
Era um tempo em que a condição de pescador ainda marcava seriamente a identidade daqueles ocasionais peregrinos. E em que o santuário não se tinha ainda convertido naquelas ruínas esquecidas, que nenhuma promessa de restauração acaba por cumprir.
Nesse longínquo passado, a zona circundante ao rectângulo fechado num lado pela igreja, enchia-se de gente, que atirava moedas para a imagem gradeada na pequena capela vizinha e se multiplicava de espantos à beira do recorte das falésias.
Numa das pequenas lojas dos pisos térreos compraram-me o brinquedo de estimação de um Verão entediante: um pequeno cilindro com tampa de vidro dentro do qual duas balizas desafiavam uma pequena bola. Os grandes jogos, que então assim congeminei, invariavelmente ganhos pelo meu clube de eleição!
Nesse passado tudo me parecia enorme, a começar pela viagem entre Almada e o Cabo Espichel. Que se aproximava do conceito de aventura para mundos distantes…
Numa dessas visitas, e porque havia que gastar tempo até ao início da procissão, levaram-me a ver o farol. Que ainda quase cheirava a novo depois de remodelado...
As escadas até ao topo pareciam nunca mais acabar e as dimensões da lâmpada rotativa um autêntico prodígio da ciência.
Feliz inocência a desse miúdo de calções, que não imaginava a rapidez com que se lhe imporiam as mais duras realidades do país salazarento em que lhe coubera nascer. Porque estava a começar uma guerra em África, que adiaria por mais uns quantos anos a esperança de converter o país num espaço de decência, onde não existissem pides nem bufos, prisões políticas ou tribunais plenários.
Se sortilégio subsiste de um tempo mítico da infância, enquanto universo de recompensas, mais do que de castigos, o Santuário da Senhora do Cabo e o seu farol constituem dele um cenário privilegiado…
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