segunda-feira, dezembro 24, 2007

OS ESTADOS DE ALMA DOS EUA

Não é só por ser o autor de «Elephant», um dos filmes que tomaram o massacre de Colombine como tema: o cinema de Gus Van Sant espelha um enorme mal estar na juventude norte-americana.
Embora as notícias vão dando conta de uma América política bastante conservadora, que chega a ter fundamentalistas cristãos como candidatos credíveis à Presidência pelos maiores partidos, os estados de alma dos personagens dos filmes deste realizador lembram aquela época distante, em plenos anos 60, quando o macartismo parecia ter dobrado a espinha a quem se posicionava ideologicamente à esquerda e o poder económico tomava de assalto todas as instituições do poder político e social. E, no entanto, a explosão da segunda metade dessa década não tardaria - com a luta pelos Direitos Cívicos, pela contestação à Guerra do Vietname, com a revolução sexual e o ambiente de guerrilha nos campus universitários.
«Paranoid Park» confirma isso mesmo: há toda uma geração insatisfeita, que está pronta a virar de pantanas a América conservadora, mas ainda não sabe como fazê-lo. Até porque a assaltam pruridos morais, que lhe tolhem a compreensão dos impasses deixados pela gestão Bush em tempo de despedida.
É por isso que os filmes de Van Sant são extremamente políticos: mesmo sem comportarem uma mensagem (como o faz Michael Moore), eles são o testemunho de uma transformação, que se pode pressentir, mesmo que ainda não tenha verdadeiramente começado a explicitar-se...

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