quarta-feira, dezembro 26, 2007

HENRY DE MONFREID: UM AVENTUREIRO POR CONVICÇÃO

Nos seus noventa e cinco anos de vida, o aventureiro francês Henry de Monfreid aprendeu o suficiente para deixar aos vindouros um lema instrutivo: «Nunca tenham medo da vida, nem da aventura. Confiem no acaso, na sorte, no destino. Partam! Procurem outros espaços, outras esperanças. O resto virá por acréscimo!»
Foi isso que ele decidiu desde muito cedo, quando as inundações do Sena o ameaçaram de miséria, e o forçaram a partir num barco para o Corno de África, deixando-o no que hoje é conhecido como Djibuti.
Na época - estava-se em 1910 - tratava-se do Território francês dos Afars e dos Issas, mesmo à beira do deserto mais absoluto.
Henri Michaud, que passará por ali, definirá essa terra como sendo aquela onde «não há nada para ver e tudo está por interpretar».
Aquele que muitos consideram o maior aventureiro do século XX interpreta todos os sinais desse lugar e torna-se numa referência respeitada, apesar de se dedicar ao ofício de traficante de armas e de haxixe, comprando a mercadoria na Índia e vendendo-a no Egipto. Para ser bem sucedido não hesita em suplantar a concorrência e os ladrões com a construção de barcos sempre mais rápidos.
Mas não é só como construtor naval, que ele se notabiliza: pescador de pérolas, pianista, pintor de aguarelas, Henry de Monfreid também assusta as melancólicas autoridades coloniais com a sua vontade de intervir politicamente. Na Primeira Guerra Mundial decide combater os turcos quase sem qualquer apoio. E, na Segunda, como o imperador etíope Hailé Seilassíé era o seu inimigo de estimação devido às suas tentações expansionistas em relação ao Djibuti e ao Iémen, Monfreid acaba como aliado das tropas italianas, sendo colocado pelos ingleses em prisão domiciliária no Quénia.
Mas já antes Monfreid escapara ao envenenamento, que Selassié procurara conseguir através de uma caneca de café. Diz-se que exagerou na dose, já que Monfreid acabaria por vomitar a beberagem.
Já tinha, entretanto, iniciado os relatos das suas aventuras, primeiro como continuação das cartas ao próprio pai. Depois, terá sido Joseph Kessel quem o instigou a passar a papel tudo quanto conhecia.
Surgiram assim «Os Segredos do Mar Vermelho», primeiro de vários tomos, que ele escreveu, a propósito das suas viagens, contactando vagabundos, aventureiros, caçadores de prémios e funcionários coloniais numa atmosfera apocalíptica.
Amigo de Teilhard de Chardin, ele torna-se numa espécie de D. Quixote orgulhoso e rude, que não prescindia de três cachimbadas de ópio nos dias normais e o dobro naqueles em que se visse obrigado a dar entrevistas...

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