domingo, dezembro 30, 2007

O FUTURO JÁ NÃO É O QUE ERA

Conheço a frase, mas só agora, ao vê-la recordada no «Público», é que a associo a Paul Valéry:
O problema com o nosso tempo é que o futuro já não é o que era.
E ela enquadra-se, perfeitamente, neste tempo em que perdemos todas as certezas a respeito do que será esse porvir: são tantas as ameaças, que se colocam ao nosso bem estar; são tantas as incertezas a respeito das ideologias, que balizarão os nossos passos, que conformamo-nos com o ir vivendo o dia-a-dia sem aspirarmos a grandes utopias nem nos deixarmos aterrorizar pelos cenários catastróficos enunciados por alguns.
É verdade que essa posteridade me era bem mais aliciante nesse longínquo passado em que acreditava na possibilidade de um homem novo numa sociedade cada vez mais igualitária.
Desconhecia, então, a que dimensões ilimitadas poderia estender-se a cupidez desse minoria, que se apossa sem vergonha de todos os poderes, inclusive o da informação ou o da educação, para fazer crer na normalidade de uma desigualdade congénita a qualquer sociedade humana. Estimulando nos mais explorados, nos mais miseráveis, as suas piores características. Aquelas que nos fazem arrepiar quando deparamos com a cegueira dos que se deixam arrastar por fundamentalismos religiosos, clubistas ou xenofóbicos. Os que aparecem nas televisões a gritarem revoltas inócuas para os seus verdadeiros opressores, sem entenderem o quão manipulados são por estes para dispararem em todas as direcções a sua raiva menos para a que mereceria de facto o seu ódio de classe.
Se o futuro já não é o que era, até posso estar enganado num certo pessimismo ideológico e estar a germinar na Venezuela de Chavez ou na Rússia de Putin - tão odiados ambos pelos opinadores dominantes - algo que signifique o regresso a carris de que, há muito se descarrilou…

Sem comentários: