sábado, março 13, 2021

(DL) Quando uma cidade sugere uma grande história

 

Que estimulante foi a descoberta de Marselha, quando Alexandre Dumas a descobriu em 1843! Já famoso como escritor via-se perante um novo amor à primeira vista. Ainda não era a claridade do sul, que viria depois a fascinar os pintores impressionistas das décadas seguintes, mas a do cosmopolitismo de uma cidade, que sabia ser uma das mais antigas de França - os antigos gregos haviam-na fundado por volta de 600 a.C. - e onde encontrava gente de todas as etnias e linguajares.

Frequentando o porto com mais facilidade do que as religiosas locais - impedidas de por ali passearem não fossem ganhar ideias a propósito da forma fálica da torre mais alta da Fortaleza de Saint Jean! - Dumas assistiu à entrada e saída de navios do porto, vendo-os cruzarem-se no espaço entre essa construção e o farol. Mais adiante, ao largo, espreitou a prisão do ilhéu de If, desde o século XVII convertido em prisão do Estado.

Em que momento lhe surgiu o personagem Edmond Dantès? Não sabemos, mas terá sido num desses marinheiros com que se cruzava nos cais e imaginava noivos de belas catalãs como a Mercedes do romance. E assim nasce a ideia de uma conspiração, que levará o surpreendido e atraiçoado protagonista para a infame masmorra. Ganhando apesar de tudo a cumplicidade com  o culto abade de Faria, que seria seu mentor para se tornar naquele em que se viria a transformar. Já morto o amigo, escapa da prisão para iniciar a vingança contra quem o tinha forçado a cruel destino. O Conde de Monte Cristo, com que passará a apresentar-se, beneficiará do tesouro, cuja localização o amigo lhe confidenciara partindo para um desenlace, que justificaria o enorme sucesso literário subsequente. E assim, de uma viagem aprazível, nasceu um dos grandes romances do século XIX! 

Sem comentários: