segunda-feira, março 08, 2021

(DL) As memórias de um quase centenário

 

A morte de Lawrence Ferlinghetti foi razoavelmente divulgada na última semana de fevereiro, quando a soubemos pelos telejornais. Um pretexto mais do que justificado para lhe evocar o livro de memórias publicado pela Quetzal há quase ano e meio, Rapazinho, escrito na quase centenária condição e em que trouxe de volta as reminiscências da turbulenta infância, quando a mãe açoriana já não estava em condições psiquiátricas para dele cuidar, fazendo-o circular entre os dois lados do oceano para viver com tias de sangue ou de adoção.

Há, igualmente, o retorno aos tempos da guerra, quando os norte-americanos tiveram em Pearl Harbour o estímulo para criarem a mitologia dos heróis. Ou a época seguinte, a do estudo ao abrigo de uma bolsa para veteranos de guerra, concluída com o doutoramento na Sorbonne.

Numa escrita, que se pode ler como a do desiderato da geração beat a que pertenceu - até por lhes editar os livros através da casa editora e livraria de São Francisco, que crismara de City Lights com a autorização expressa de Chaplin -, identificamo-nos com a personalidade de um homem consciente da existência de classes sociais muito distintas e de quanto a dinâmica histórica decorre do seu confronto.

Leitura adiada, como a de tantas sentidas como prioritárias no momento da compra, mas depois secundarizadas por outras, que lhes passam à frente, julgo chegado o momento certo para a ela me entregar...

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