Vingança, eis o tema de «Sweeney Todd», o filme de Tim Burton, que passa agora por Lisboa. E Johnny Depp assume, que é um dos que mais o interessam, porquanto toda a gente terá uma pitada de tal sentimento face a quem o humilhou ou prejudicou.
Pessoalmente não gostaria de pôr as coisas nesses termos, já que a vingança é, sobretudo, emotiva, e a idade vai-me dando vontade de racionalizar o mais possível o que se passa.
Mas, quando penso nos crimes de Franco ou de Pinochet, será possível racionalizar? Só que a grande verdade é terem morrido de velhice nos seus confortáveis leitos sem sentirem o peso de uma justiça, que seria sempre incapaz de encontrar castigo bastante para as suas malfeitorias…
Como teria sido possível vingar as vítimas de tais algozes se tivesse havido oportunidade de os confrontar com uma qualquer forma de justiça?
Pegando noutro exemplo, os condenados de Nuremberga terão mitigado, um pouco que fosse, a vontade de vingança dos crimes nazis entre 1933 e 1944?
Quando Depp enfatiza assim tanto a vingança como sentimento justificado pelas injustiças de quem a procura não estará assim a esquecer o essencial? Que o fundamental continua a ser a procura de um outro tipo de sociedade aonde se reduzam em muito as injustiças no seu todo?
É claro que se trata de uma utopia, que os socialistas e os comunistas procuraram exequibilizar em formas diferentes de governar à esquerda e que falharam rotundamente em todas essas experiências. Mas isso não implica que se aprenda com esses fracassos e se busquem novas vias de solução para uma doença incurável: a de uma sociedade humana aonde se é naturalmente egoísta, arrogante e prepotente, quando se é poder, mas aonde o projecto de um homem novo mais justo e fraterno continua a fazer sentido!
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