quarta-feira, fevereiro 20, 2008

GUILLERMO DEL TORO: «O LABIRINTO DO FAUNO»

Chama-se Ofélia a miúda adolescente, que chega com a mãe ao acampamento militar do capitão Vidal, que passou a ser o seu padrasto.
Está-se na primeira metade dos anos 40, quando a Guerra Civil ainda não está inteiramente apagada, porquanto subsistem bolsas de guerrilheiros nas zonas mais recônditas de Espanha. São esses resquícios de resistência, que Vidal procura aniquilar.
Mas a chegada de Cármen e da enteada tem outro objectivo: o de assistir ao nascimento do filho, que almeja como sucessor! Daí a importância de ter junto a si o Dr. Ferrero, o médico da região.
O filme de Guillermo del Toro, intitulado «O Labirinto do Fauno», não se resume, porém, a uma mera evocação de um período tenebroso da História Contemporânea. Como Ofélia é leitora voraz de livros, que a acompanham por todo o lado, o filme mostra-a atraída por um labirinto, aonde um estranho personagem lhe conta uma inesperada novidade: ela é a princesa Moanna, filha do rei do Mundo Subterrâneo e que terá um percurso iniciático a percorrer antes de a ele voltar a aceder. Para a ajudar nessa tarefa oferece-lhe o Livro das Encruzilhadas.
A primeira prova, embora complicada, é vencida facilmente por Ofélia: conseguir uma chave de um nojento sapo gigante escondido nas raízes de uma árvore moribunda.
Vai-se, entretanto, conhecendo algo mais sobre o carácter psicopata de Vidal, que mata a sangue-frio os mais inofensivos suspeitos de simpatia para com os comunistas.
A segunda tarefa mágica de Ofélia já corre pior: apesar das indicações rigorosas do Fauno para que resista aos lautos alimentos apresentados numa mesa, ela não resiste e come alguns bagos de uva. Tanto bastará para se desqualificar quanto ao objectivo de regressar à pele de Moanna.
Vale-lhe que, nessa altura, perante os problemas de saúde da mãe, ela já obtivera do estranho ser a Mandrágora com a qual garantira a melhoria significativa dos inquietantes sintomas daquela.
Só que o capitão Vidal descobre a planta debaixo da cama e destrói-a. É quanto basta para que Cármen não resista a nova hemorragia, morrendo de parto.
De nada lhe valia então o dr. Ferrero, cujas ligações clandestinas com os guerrilheiros, descobertas por Vidal, levam este a matá-lo. Ou Mercedes, a governanta, que decide-se, enfim, a fugir juntando-se aos combatentes clandestinos, e é capturada, quando levava Ofélia e o irmão consigo.
Sujeita a tortura, Mercedes consegue arranjar forças para se libertar e ferir seriamente Vidal, quando este se preparava para a torturar selvaticamente.
Perseguida pelo padrasto, quando procura refúgio no Labirinto, Ofélia encontra de novo um Fauno disposto a dar-lhe uma derradeira oportunidade: um ritual em que terá de sacrificar o bebé.
Recusando essa barbaridade, a adolescente fica à mercê do desfigurado Vidal, que dispara sobre ela, quando a vê escapulir-se com o seu ansiado herdeiro.
Desconhecia a rapariga que se tratava da expedita via para aceder ao seu mundo mágico, aonde a esperam o pai e a mãe, os reis desse acolhedor espaço. Com o Fauno, que lhe diz ter sido a correcta essa opção de recusar o sacrifício do bebé inocente.
Vidal não consegue, entretanto, livrar-se do seu destino: cercado pelos vitoriosos guerrilheiros será executado seriamente, tomando Mercedes conta da criança. Prometendo ao carrasco, que o filho nem sequer saberá alguma vez o seu nome, gorando-lhe as expectativas de deixar sucessor.
Embora com os limites próprios de quem mistura fantasia com acontecimentos dramáticos da história humana, Guillermo del Toro consegue a ponte para um público para quem a Guerra Civil é coisa quase pré-histórica, consumindo o lado mágico sem se dar conta que se incrustra em si a conotação entre os malvados franquistas e a perfídia da madrasta da Branca de Neve.
Os meios de produção são reduzidos em nada se comparando com a saga do «Senhor dos Anéis» e, por isso mesmo, a caracterização do Fauno é pouco verosímil.
Mas como quem não tem cão, caça com gato, pode-se dizer que o realizador conseguiu a arte de credibilizar a sua narrativa à conta do trabalho dos actores, de entre os quais avulta Sergi Lopez no papel de Vidal.
Só é pena que o destino deste personagem não tivesse sido o da generalidade dos oficiais franquistas, que tantos crimes cometeram em nome da sua fé religiosa e dos seus valores monárquicos. Os que continuam alimentar as forças mais tenebrosas da política espanhola.

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