quarta-feira, outubro 03, 2007

Os 7 Andares de Dino Buzzati

«Sete Andares» foi escrito por Dino Buzzati em 1942 numa altura em que a Guerra Mundial estava a conhecer o seu momento de viragem. Ligado forçosamente a Hitler, o ditador italiano Mussolini ainda parecia extremamente forte, mas já se prefigurava a sua queda.
Na história de Giuseppe Corto, que entra voluntariamente num sanatório para se recuperar de uma fragilização evidente da sua saúde e vai descendo desde o sétimo andar até ao primeiro - o dos moribundos - sempre iludido quanto ao seu estado, existe uma evidente metáfora política.
Às vezes os mais conscientes acreditam na necessidade de dar a provar o veneno aos cidadãos como forma de os vacinar do perigo da sua aplicação total. A experiência mostra que esse é o caminho mais óbvio para a implantação de uma das muitas variantes de fascismo.
Quer Hitler, quer Mussolini ganharam eleições pseudo-democráticas. Os fundamentalistas islâmicos chegaram ao poder nalguns países em revoluções entusiasticamente saudadas por comunistas e socialistas, logo fadados a serem encerrados em prisões. O Irão é apenas um exemplo disso mesmo: quem se congratulou com o derrube do Xá acabou por tombar diante de pelotões de fuzilamento de Guardas da Revolução.
Mas essa lição tarda em ser assimilada: houve quem no Ocidente criticasse o exército argelino por impedir o acesso dos fanáticos islâmicos ao poder depois de eleições consideradas legítimas, esquecendo que essa teria sido a última oportunidade para o eleitorado se confrontar com diversas opções…
A capacidade do ser humano em se deixar iludir é inesgotável. E esse é o drama de Giuseppe: a partir do momento em que, de livre vontade, decide entrar no sanatório a sua condenação é inapelável. Porque naquela engrenagem terrível não há hipótese de redenção: apesar de continuar a acreditar no regresso aos andares superiores, o protagonista não se interroga pelo facto de nunca encontrar quem conseguira essa proeza. A partir do momento em que se entra no sétimo andar a queda até ao primeiro resume-se a uma questão de tempo...

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