sexta-feira, outubro 05, 2007

Na evocação de Glenn Gould, 25 anos passados sobre a sua morte...

Em 4 de Outubro de 1982, na sequência de um acidente vascular cerebral, morria em Toronto esse pianista genial, que foi Glenn Gould.
Quando aí mesmo nascera, cinquenta anos antes (em 25 de Setembro de 1932), o seu nome verdadeiro era Glenn Herbert Gold. Mas, temendo os efeitos do anti-semitismo então relevante na sociedade canadiana, a família tratou de lhe mudar o apelido para aquele que ficaria como definitivo.
Como o avô era sobrinho de Edward Grieg, a aprendizagem do piano era uma opção natural para a sua educação infantil, tanto mais que se notariam desde muito cedo os efeitos de uma forma mitigada de autismo (sindroma de Asperger), que explicaria muitas das suas ulteriores excentricidades.
Tão só conclui os estudos no Conservatório de Toronto e logo começa uma bem sucedida carreira de concertista, que o levará a actuar com Karajan, Bernstein ou Yehudi Menuhin.
Em 1955 é a sua consagração, quando é editada a sua abordagem das Variações Goldberg, de Bach, na etiqueta CBS à qual seria doravante fiel.
Tratava-se de uma interpretação absolutamente genial e totalmente diferente do que se fizera até então: desprovido de legato, quase sem tocar no pedal e com uma regulação milimétrica das cordas até elas ficarem na sua máxima tensão o resultado é de um inédito dinamismo e vivacidade.
Dois anos depois ele mostrou a coragem de romper com uma ordem dos governos ocidentais anticomunistas ao fazer uma digressão pela União Soviética. Talvez isso explique o surgimento de uns medíocres detractores, que lhe apontavam como defeito o hábito de cantarolar a acompanhar-se a si mesmo ao piano ou os seus gestos interpretativos, quase se deitando sobre o teclado. Mas tratava-se de algo por ele propositadamente pretendido: a sua banqueta estava com os pés serrados para lhe propiciarem essa aproximação da cabeça com o teclado…
Mesmo quando a interpretação lhe exigia uma só mão no teclado a outra vogava no ar em gestos arrebatados, como se então, Gould se convertesse no chefe de orquestra de si próprio.
Em 1964, porém, Glenn Gould decidiu deixar de actuar em público, reservando-se tão só para as gravações de discos e para os seus programas de rádio e de televisão. Ou para a composição: o bem humorado «So you want to write a fugue» ou o «Quarteto de Cordas, op.1».
Mesmo quando o assunto das suas preocupações não era aparentemente a música, ela aparecia de forma inesperada: em reportagens radiofónicas sobre os habitantes do Norte do Canadá, os menonitas do Manitoba ou os emigrantes da Terra Nova ele inventa a rádio contrapôntica, ou seja, a justaposição de vozes em simultâneo como se se tratassem de um coro.
Felizmente para nós sobram muitas imagens das suas actuações, sobretudo as captadas pelo francês Bruno Monsaingeon, autor de um documentário de referência, datado de 1974: «Os Caminhos da Música» ou «Glenn Gould, o Alquimista».
Por isso nesta evocação sobre o seu desaparecimento é possível revê-lo nalgumas dessas imagens...

Sem comentários: