sexta-feira, outubro 26, 2007

O medo do Construtor Solness

O construtor Sölness tem medo. Há uma nova geração a despontar, com novos conceitos arquitectónicos, que lhe são estranhos. É o caso do seu jovem assistente Ragnar, a quem paga um bom salário tão só não se atreva a autonomizar-se em projectos próprios.
O tema do medo, assim tratado na peça de Ibsen actualmente em cena na Cornucópia, é extremamente actual: não só porque as novas gerações, atormentadas pelo desemprego, mesmo quando ditadas de diplomas universitários, aí estão a bater à porta dos nossos próprios empregos, dispostas a fazer melhor e mais do que nós, os cinquentões, conseguimos fazer. E a reforma ainda se mostra tão distante … e, sobretudo, tão incerta, ou não estejam em risco os nossos Sistemas de Segurança Social!
Mas o medo tem, sobretudo, a ver com o entre parêntesis, que conheceram as utopias libertadoras da humanidade. Face a um sistema de mercado sujeito a tremendas crises, embora forte o suficiente para parecer o único exequível, as pessoas atemorizam-se com as sucessivas agressões de que são alvo: os empregos desinteressantes e mal remunerados; a insegurança latente explorada pelos media, que a empolam; a própria miséria afectiva em que se afunda uma grande maioria, incapaz de encontrar correspondência entre os seus sonhos e as realidades comezinhas de todos os dias.
O medo de Sölness não tem apenas a ver com a sucessão geracional, mas com tudo quanto comporta a própria vida!

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