quarta-feira, abril 27, 2016

FESTIVAL INDIE: «Mesmo que fosse criminosa» de Jean-Gabriel Pétiot

Um dos acontecimentos, que tive pena de perder o Indie deste ano foi a retrospetiva dedicada aos 28 filmes de Jean-Gabriel Périot, realizador francês conhecido pelos documentários dedicados a temas políticos, e trabalhados a partir de materiais de arquivo. Mas ou estava nos Dias da Música ou a assistir a essas sessões...
À partida surpreende que Périot confesse não ter tido grande formação política, o que o terá levado a absorver muitos lugares-comuns sobre fenómenos bem mais complexos do que a visão maniqueísta mais facilmente transmitida o sugeriria. Por isso os filmes surgem-lhe como pretexto para investigar esse assunto e devolve-lo sob a forma de curtas ou longas metragens,  libertos dos lugares comuns mais disseminados.
Veja-se o filme, cuja visão sugiro através do link para o youtube abaixo anexado: «Mesmo que ela fosse criminosa» mostra em menos de dez minutos as humilhações terríveis por que passaram muitas mulheres logo após a Libertação de 1944, acusadas de terem colaborado com os nazis ou com eles partilhado a cama.
Para contextualizar esse momento sórdido de um acontecimento, que deveria ter tido uma dimensão de grandiosidade, Périot faz desfilar em câmara rápida algumas das imagens mais elucidativas da invasão nazi e do colaboracionismo do regime de Vichy para depois apresentar as terríveis imagens de mulheres violentadas por biltres, que não se comportavam de acordo com o respeito pelos Direitos Humanos, que então se exigia.
Comparados aos rostos sofridos das mulheres ofendidas indignam-nos as expressões cruéis dos «vingadores» armados em heróis de pacotilha. E perguntamo-nos se teriam revelado essa mesma “coragem” nos meses e anos anteriores, quando urgia combater os Alemães na clandestinidade.


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