quarta-feira, julho 29, 2009

As praias de Agnés

Uma das metáforas felizes emitidas por Agnés Varda a respeito do seu filme mais recente («As Praias de Agnés») é a da organização da sua memória como se se tratasse de imenso puzzle, mas em que, quem o tenta resolver, não tem qualquer imagem de referência a guiá-lo.
É a vida feita de múltiplos momentos, que podem ser associados das formas mais distintas. Sobretudo se, como no caso da realizadora, se usufruiu, não de uma, mas de diversas e riquíssimas vidas. Por exemplo a da adolescente belga apanhada aos 13 anos pela 2ª Guerra Mundial sem sequer pressentir a iminência de tão medonha carnificina. A da jovem ligada à Nouvelle Vague sem assumidamente nela se integrar de facto. A da cineasta convidada para uma carreira do outro lado do Atlântico aonde conviveria com a seita de Warhol e com o líder dos Doors. A mulher apaixonada por um excêntrico (Jacques Demi) com quem partilharia fascínios e inquietações. A observadora atenta da realidade sociológica abordando por isso os esforços dos esforçados respigadores numa sociedade vocacionada para a exclusão. Ou, enfim, a experimentalista que, aos 81 anos, ainda continua a procurar novas linguagens e meios de as expressar.

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