terça-feira, fevereiro 03, 2009

A Viagem do Elefante

Será o elefante Salomão uma divindade? É o que sobre ele perguntam ao cura mal desperto os aldeões de um dos sítios por onde o paquiderme vai passando na sua lenta viagem para Valladollid.
Tendo surpreendido uma conversa entre o cornaca Subhro e o comandante do destacamento militar enviado por D. João II para acompanhar o seu presente ao primo Maximiliano, arquiduque da Áustria, eles questionam as verdades axiomáticas da Igreja, quando a Inquisição estará em vias de se implantar no rectângulo lusitano.
Tão pressionado se sente o clérigo, que logo decide avançar para uma bênção ao animal, dando razão ao que o escritor sugere - que o povo unido jamais será vencido.
Muito oportuna essa intervenção contínua do narrador enquanto observador distanciado da trama e, como tal, legitimado na sua condição de crítico das próprias opções estilísticas do texto. A confirmar que, apesar de seriamente debilitado pela doença, jamais Saramago pareceu tão irónico no que publicou.
Um sinal inequívoco de uma grande sabedoria sobre a vida e as suas múltiplas manifestações…

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