sábado, fevereiro 21, 2009

Paul Haggis: «No Vale de Elah»

«No Vale de Elah» tinha todas as condições para merecer várias nomeações para Óscares, para além da que coube a Tommy Lee Jones pelo seu papel principal. Mas a América de George W. Bush, em 2006, ainda estava longe de reconhecer o quão mergulhada estava num verdadeiro atoleiro, aonde o frágil David poderia derrubar o forte Golias a exemplo do que sucedera há muitos séculos atrás nesse referido vale. Porventura, na presente América de Obama, o filme teria outro acolhimento do público e da Academia de Hollywood.
Porque se trata não só da guerra no Iraque, mas também nas suas consequências junto de soldados vindos desses traumáticos cenários.
À partida o veterano Hank Deerfield parte à procura do filho Mike, desaparecido do seu quartel alguns dias atrás e cujo cadáver aparece apunhalado, carbonizado e cortado aos bocados num campo baldio. Patriota, nada o faz suspeitar da terrível realidade, que se ocultava por trás da personalidade do seu filho.
Ajudado por uma agente policial, apostada em se afirmar perante os seus misóginos colegas, Hank irá descobrir todas as alterações provocadas no filho pelo que ele vira no Iraque. O quase anjo anteriormente personificado acaba por se revelar um monstro, que se droga, insulta strippers ou se envolve em zaragatas.
E nos filmes resgatados do seu telemóvel o pai surpreende em Mike uma vocação de sádico torturador.
Mas não é só Mike quem se transmuta: à sua volta há outros soldados, que começam por afogar o cão doméstico na banheira como preparação para o fazerem com a própria mulher dias depois. Ou os que viram psicopatas se quase darem pelas consequências dos seus actos.
O filme de Paul Haggis acaba por ser um terrível libelo contra uma guerra injustificada, despoletada por um presidente idiota acolitado de uma corte de gananciosos oportunistas. E a imagem desacreditada, que fica da América, está bem evidenciada na bandeira virada de pernas para o ar, que Hank afixa no mastro em frente à sua casa. O patriota passou a olhar para os seus valores e crenças com um cepticismo, que prenuncia a reviravolta política aí acabada de suceder.
Possa agora Obama prefigurar uma inflexão completa do rumo seguido até aqui e conclua pelas vantagens de negociar em vez de matar e prender quem ama o seu país ao ponto de nele rejeitar quaisquer invasores…

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