domingo, fevereiro 08, 2009

MONA LISA SHOW

Entramos na sala e os actores olham-nos no rosto. Sorridentes, como se quisessem ganhar a nossa simpatia. No exacto contrário do que Brecht propunha com a sua teoria do distanciamento entre o espectador e o que se passa no palco…
Depois, durante hora e meia, temos sete actores a desdobrarem-se em múltiplos papéis, que nos devolvem para a realidade do nosso dia-a-dia e para quem connosco se costuma cruzar nos empregos, na rua, nos ambientes familiares.
Em geral são personagens insatisfeitos com o que fazem. Por culpas próprias, por falta de talento ou, pura e simplesmente, por manifesta falta de sorte…
Quase todos vivem inquietos, se não mesmo angustiados com a sucessão sempre igual dos seus dias. Aonde quase nunca cabe a esperança. Excepto, quando se abrem para os sonhos impossíveis e se deixam embalar por utopias irrealizáveis.
Por isso no final os sete rostos simpáticos dão lugar a expressões crispadas de quem se sente acossado. Embora lentamente eles se aligeirem e as luzes se apaguem sobre os seus rostos serenos, porventura desencantados e sem vontade de continuarem a contrariar o rumo das coisas.
Fica assim uma síntese possível da peça «Mona Lisa Show», vista há dias na sala do Teatro Meridional.

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