sexta-feira, agosto 17, 2007

LOU REED: «TRANSFORMER»

Em 1972 Lou Reed já deixara para trás a sua ligação à Factory de Andy Warhol. Os Velvet Underground, que ele integrara juntamente com John Cale, Sterling Morrison, Mo Tucker, Angus MacAlise e a famosíssima Nico, não aguentariam a sua deserção. E o pai espiritual desse ninho de criadores, ademais atingido pelos tiros de uma das suas discípulas, não voltaria a ter quem traduzisse em sons os seus conceitos artísticos.
Lou atravessaria o Atlântico e aportaria a Londres, aonde David Bowie, então em pleno auge do sucesso com a sua personificação de Ziggy Stardust, o produz.
O que sai então é um dos álbuns mais marcantes desses anos: «Transformer».
É o álbum de «take a walk to the wild child», que tinha muito a ver com os transexuais e travestis, que costumavam dar um tom de excentricidade à Fábrica. Ou de «A Perfect Day».
Apesar de desafectado do cenário nova-iorquino, Lou Reed recorda as histórias e os diálogos, que tinham iluminado os seus dias e noites nos últimos anos dos anos 60. Quando o mundo parecia estar em acelerada mudança e as pequenas histórias de gente sem cheta valiam como símbolos de utopias, que não estavam então desarticuladas.
Porque nem sequer o sonho americano o acalenta, Lou Reed descreve a realidade em tons soturnos. Aos engenheiros de som, que lhe misturam os efeitos da mesa de estúdio ás palavras, ele pede para realçarem precisamente tal cinzentude.
Porque, enquanto os outros criadores faziam canções xaroposas sobre o amor, Lou Reed privilegiava o abandono, o ciúme. Jogando com as palavras num tipo de poemas, que deixam as suas significações em aberto, e agradável de se ouvir sem a bengala da música.
É por tudo isso, que «Transformer» é um álbum emblemático desses anos 70, sobretudo quando sabemos quanto esses anos marcaram o fim de uma certa forma de inocência.
E que permanece actual, como se o tempo não houvesse vincado nele as suas marcas...

Sem comentários: