domingo, abril 29, 2007

SINGAPURA SEGUNDO MONTALBAN

Há certas leituras, que me fazem confrontar com uma evidência: sítios houve aonde estive, que desaproveitei por não ter cultura suficiente para os saber aproveitar devidamente.
Essa evidência surgiu-me, uma vez mais, na leitura de «Milénio», o livro do Manuel Vasquez Montalban, com que ele se despediu da vida. Neste momento, Pepe de Carvalho e Biscuter estão em Singapura e surge-lhes como obrigatória uma visita ao Hotel Raffles, um edifício mítico, que a escrita de Somerset Maugham e de outros escritores eternizou.
Ora acontece que tendo estado tantas vezes nessa cidade da ponta sul da península malaia e aí chegando a permanecer dias inteiros - nomeadamente quando me mudei do «Fernando Pessoa» para o «Team Trinta» em escala no norte da Austrália - e passou-me ao lado tal edifício.
É certo que o dinheiro não abundava e que, segundo Montalban, cada noite aí passada mede-se pelos milhares de dólares, mas teria sido perfeitamente possível entrar no seu hall e, quiçá, beber um sumo de laranja no seu bar. Seria uma forma de sentir que fizera algo de significativo ali para além de um memorável jantar no último andar do mercado local ou da compra de uma écharpe com motivos picassianos no seu Bairro Chinês.
A sensação, que me fica é a de ter conquistado alguma cultura desde muito cedo, mas ter ficado muito aquém da erudição necessária para ter registado do meu passado de andarilho pelo mundo as memórias necessárias para delas extrair alguns textos literários com potencial, se não pelo estilo, pelo menos pelo que de diferente pudesse neles estar contido.

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