segunda-feira, abril 23, 2007

A alegria dada por Ségolène e o epílogo de um oportunista

A passagem de Ségolène Royal à segunda volta das eleições francesas, aonde irá encontrar o inefável Sarkozy, veio desarmar a intensa campanha que, quer em França, quer em Portugal, a davam como potencialmente derrotada, fosse pelo cinzento Bayrou, fosse, mais recentemente, pelo sinistro Le Pen.
Os eleitores franceses foram em massa às urnas e deram a resposta adequada a esses arautos do crepúsculo da esquerda.
Em 6 de Maio vão confrontar-se, de facto, dois projectos bem distintos de sociedade: por um lado uma direita musculada, que vê na expulsão dos que são diferentes em cor e/ou em credo, para corresponder à óbvia decadência gaulesa na sociedade das nações.
Por outro lado, uma mulher bonita e inteligente, que acredita na possibilidade de tornar a esquerda resiliente às mudanças, tornando-a capaz de dar as mais eficazes respostas aos difíceis desafios do futuro.
As armas de ambos são desiguais ou não tenha Sarkozy o apoio dos interesses capitalistas, que tomaram de assalto os órgãos de informação para influenciarem a opinião pública com as suas campanhas (des)informativas.
Mas há em Ségolène a imagem serena de quem acredita na capacidade colectiva para superar os problemas de hoje e de amanhã, que pode fazer regressar a França à esperança de 1981, quando Mitterrand encarnou uma verdadeira revolução tranquila.


A morte de Boris Ieltsin é daquelas, que lembra uma velha expressão: já há muito que a História o atirara para o caixote do lixo e ele insistia em negar-lhe o último dos ritos, o do enterro.
É claro que, nesta altura, os políticos, os jornais e as televisões vão acotovelar-se a encontrar fórmulas simpáticas para designar um oportunista, que foi um fiel seguidor de Brejnev enquanto o poder soviético ainda mantinha uma certa aparência de sustentabilidade, mas logo virou o bico ao prego ao constatar o fracasso completo da campanha no Afeganistão e a desigualdade de capacidade militar em relação aos Estados Unidos.
Interpretando o sentido da História, que impunha o fim do projecto político outrora lançado por Lenine, por Trotski e por Estaline, ele aproveitou a fraqueza de Gorbatchov para chegar ao poder num autêntico golpe de Estado.
O que se sucedeu já se conhece sobejamente embora surja muito escamoteado pelos que defendem a estratégia do arrivista: um enriquecimento obsceno de uns quantos oligarcas à sombra do novo senhor do Kremlin e a terrível pauperização de milhões de antigos cidadãos soviéticos atirados para condições de nacionalidade completamente abstrusas - tajiques, cosaques, chechenos, uzbeques, azeris e tantos mais.
Guerras civis e a ruína do tecido produtivo anterior a 1989 conduziram populações inteiras a atroz miséria. E esse é o legado do oportunista, que hoje morreu...

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