domingo, agosto 27, 2006

A Evocação de «O Último Tango»

Não adiantou grande coisa o documentário do Serge July e do Bruno Nuytten sobre a importância de «O Último Tango em Paris» na sociedade ocidental do início dos anos 70.
O realizador, Bernardo Bertolucci, recordou que Trintignant e Dominique Sanda haviam sido as suas primeiras escolhas para os papéis de Paul e de Jeanne, mas o primeiro recusara por pudor e a segunda por estar grávida.
Frustrada, assim, a hipótese de reutilizar o par de «O Conformista», o realizador procurou alternativas em Belmondo e em Delon. Que se frustraram …
Marlon Brando que, na época, era tido em Hollywood como um «has been» acabou por aceder no papel desse homem recem-enviuvado, que irá viver uma relação violenta com uma rapariga durante dois dias.
Maria Schneider fora escolhida através de um «casting», depois de referenciada nas noites de boémia no Castel.
Da «nouvelle vague» veio Jean Pierre Léaud, que sentia-se aterrorizado por contracenar com Brando.
Mas teve sorte: sindicalista militante, o norte-americano recusava o trabalho ao sábado, pelo que se rodavam nesses dias as cenas com o conhecido actor de Godard e de Truffaut.
É claro que o documentário vão localizar todo o seu interesse na célebre cena da sodomia com manteiga. Que foi uma autêntica violação, já que Maria Schneider desconhecia a sorte para ela reservada nesse dia. Bertolucci procurava que a sua reacção de choro e de revolta fosse o mais realista possível. Conseguiu-o mas o futuro não seria grato para a actriz, de quem não se voltaria a descolar aquela imagem. Por isso ela não voltaria a dirigir a palavra ao realizador. E reconhece que, hoje, chamaria a Justiça para formalizar a queixa quanto à agressão sexual inerente a essa cena.
No documentário Germaine Greer, a conhecida feminista, não contesta o valor artístico do filme, mas considera completamente oco o papel feminino principal, reduzida a mero objecto de submissão da catártica obsessão suicida de Paul. Mas, ainda assim, o filme contribuiu - e muito - para abanar os valores morais da época. E esse é o aspecto em que o documentário se mostra mais pobre: se evoca as sucessivas revoluções desses anos, não aprofunda o quanto elas significaram a ruptura com o conservadorismo pudico dos anos anteriores.
A Revolução Sexual, mesmo que limitada nos seus resultados, tornou muito mais liberta a sociedade em que vivemos...

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