domingo, agosto 20, 2006

Coragem portugueses?

Ontem houve uma tentativa de assalto a uma agência bancária em Almada. Um desempregado, já com a vida toda feita num cangalho, julgou encontrar solução naquela estratégia sem cuidar de saber que, hoje em dia, as caixas deste tipo de agências já pouco dinheiro acumulam.
Durante três horas o homem barricou-se no edifício e foi negociando com a polícia. Só depois se saberia que as duas armas com que ameaçava a integridade dos reféns eram de plástico. E que ele era um antigo operário de construção civil, divorciado e já há várias semanas sem contacto com o filho, completamente desesperado com o atoleiro em que se vira. Agora, com os polícias, só lhe restava uma obsessão: não ser reconhecido. O que equivalia a sair dali com a cabeça tapada… Os que ali se puseram a assistir aos acontecimentos reproduziram uma das variantes da psicologia de massas do fascismo, abertamente xenófoba:
- Parece que é um preto! - aventava um.
- Não, não é assim tão escuro… Acho que deve ser brasileiro … - previa outro.
Este exemplo é eloquente quanto ao estado das consciências dos portugueses. Formatados pelos jornais desportivos, que cultivam a clubite mais doentia, ou pelas revistas femininas, apostadas em divulgar as mais inconcebíveis histórias de alcova, os nossos compatriotas fazem lembrar aquele célebre poema de Almada Negreiros, que dizia mais ou menos assim:
- O Povo completo será aquele que tiver reunido no seu máximo todas as qualidades e todos os defeitos. Coragem Portugueses, só vos faltam as qualidades.
É claro que os nossos compatriotas não têm toda a culpa por essa situação: o consumo desse tipo de informação inócua, ou mesmo perversamente maligna, é atiçada pelos grandes grupos económicos nacionais, os mesmos que reclamam contra os sindicatos, contra a produtividade dos portugueses e contra a esquerda em geral. Os mesmos que alimentam a ignorância e o cepticismo face aos políticos. E que fomentam o racismo mais primário...
Seria bom converter jornais, rádios e televisões em ferramentas de informação dos portugueses. Mas é a vacuidade dos seus filmes e das suas notícias, que prevalecem.
Depois admiram-se com os resultados dos jovens portugueses nos exames nacionais…
Pudera! Com coisas do tipo «Morangos com Açúcar» ou com a «Floribella» não admira que, desde as mais tenras idades, seja a mais tonta recolha de valores, que se torna dominante...

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