Durante três horas o homem barricou-se no edifício e foi negociando com a polícia. Só depois se saberia que as duas armas com que ameaçava a integridade dos reféns eram de plástico. E que ele era um antigo operário de construção civil, divorciado e já há várias semanas sem contacto com o filho, completamente desesperado com o atoleiro em que se vira. Agora, com os polícias, só lhe restava uma obsessão: não ser reconhecido. O que equivalia a sair dali com a cabeça tapada… Os que ali se puseram a assistir aos acontecimentos reproduziram uma das variantes da psicologia de massas do fascismo, abertamente xenófoba:
- Parece que é um preto! - aventava um.
- Não, não é assim tão escuro… Acho que deve ser brasileiro … - previa outro.
Este exemplo é eloquente quanto ao estado das consciências dos portugueses. Formatados pelos jornais desportivos, que cultivam a clubite mais doentia, ou pelas revistas femininas, apostadas em divulgar as mais inconcebívei

- O Povo completo será aquele que tiver reunido no seu máximo todas as qualidades e todos os defeitos. Coragem Portugueses, só vos faltam as qualidades.
É claro que os nossos compatriotas não têm toda a culpa por essa situação: o consumo desse tipo de informação inócua, ou mesmo perversamente maligna, é atiçada pelos grandes grupos económicos nacionais, os mesmos que reclamam contra os sindicatos, contra a produtividade dos portugueses e contra a esquerda em geral. Os mesmos que alimentam a ignorância e o cepticismo face aos políticos. E que fomentam o racismo mais primário...
Seria bom converter jornais, rádios e televisões em ferramentas de informação dos portugueses. Mas é a vacuidade dos seus filmes e das suas notícias, que prevalecem.
Depois admiram-se com os resultados dos jovens portugueses nos exames nacionais…
Pudera! Com coisas do tipo «Morangos com Açúcar» ou com a «Floribella» não admira que, desde as mais tenras idades, seja a mais tonta recolha de valores, que se torna dominante...
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