sexta-feira, outubro 28, 2005

DE JUÍZES, DE MEDIDAS ANTIPOPULARES E DE UM EDIFÍCIO SIMBÓLICO

Ainda que quase todos os agentes ligados à Justiça estejam em greve contra o Governo - juízes, magistrados, funcionários dos tribunais - não sobram dúvidas quanto à falta de popularidade de tal contestação. Sendo uma luta corporativa cinge-se exclusivamente ao universo dos que se dizem prejudicados pelas medidas do Governo como se lhes sobrasse alguma razão do facto de se pretenderem acima dos demais cidadãos na distribuição de sacrifícios exigíveis a todos neste momento difícil.
É uma verdadeira vergonha o comportamento desses agentes da Justiça em tudo quanto têm sido os casos mais mediáticos dos últimos anos, a começar pelo ocorrido na Moderna, passando pela Casa Pia e desembocando, mais recentemente, com o saco azul de Felgueiras. Com tantas provas de dúbio profissionalismo, os senhores juízes e os senhores magistrados vêm defender que a sua «independência» só se revelará possível se forem lautamente pagos e usufruírem de melhores condições de assistência médica do que os demais cidadãos. Dá para citar um ministro deste Governo: «Haja decoro!!!»

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Que as medidas tomadas pelo Governo são essenciais para solucionar a crise de consolidação orçamental herdada dos anteriores (e não esqueçamos que os dois imediatamente anteriores a este foram da responsabilidade do PSD e do CDS, pelo que se revela inqualificável o ar de virgem virtuosa representado por Marques Mendes e Ribeiro e Castro!!!), demonstram-no as palavras publicadas pela economista Teodora Cardoso no «Diário Económico» de 27 de Outubro: Quando uma economia exige a adopção de medidas difíceis, o pior que pode acontecer-lhe é convencer a opinião pública de que o ajustamento é imprescindível, mas não conseguir completá-lo. (…) O país tem condições para uma recuperação bem sucedida se perceber que não pode continuar a suportar assimetrias e ineficiências, que não só têm custos insustentáveis, como apoiam o imobilismo.

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O movimento de indignação popular pela construção no local do antigo edifício da PIDE/DGS de um condomínio de luxo, mas tende a crescer como o demonstra mais um artigo publicado pela professora Clara Queiroz na edição de 28 de Outubro do «Público». Em que ela questiona:
E nós, portugueses e lisboetas, que memória tão curta e irresponsável teríamos se não protestássemos com todas as nossas forças contra este imenso roubo da nossa memória da história recente? Do edifício que corporiza a repressão que sofremos durante quase meio século, mas, sobretudo, da resistência que lhe fez face? Por que não lutarmos para que, à semelhança do que se fez em tantas cidades europeias, se transforme aquele edifício num museu de resistência ao fascismo?

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