terça-feira, maio 09, 2023

Quase banal, mas surpreendente q.b.

 

A surpresa está nos últimos vinte minutos, que contrariam tudo quanto esperávamos para conclusão de um filme sobre o desamor, primeiro o de um casal napolitano ao longo de trinta anos, depois o dos filhos a seu respeito. E, no entanto, olhando depois para o desenlace, temos de o reconhecer coerente com quanto ficara para trás.

Escolhido para estrear um dos mais recentes festivais de Veneza, Laços de Família confirma Daniele Luchetti como honesto artesão sem alcandorar-se ao nível de autor talentoso. Como o é Nanni Moretti, cuja inspiração paira por aqui, até pelo recurso a alguns dos seus atores (Laura Morante, Silvio Orlando, Alba Rohrwacher). Embora haja também algo de Elena Ferrante ou não se baseie o argumento num romance de Domenico Starmone, que algumas teorias dão como o verdadeiro autor dos romances desse fenómeno literário italiano.

De início temos uma narrativa frouxa sobre um homem que abandona uma mulher, levado por súbita paixão, e para ela volta anos depois sem que, ambos evitem o ressentimento de terem cedido a esses tais laços familiares, afinal menos pertinentes do que a natureza das suas intimas emoções. Alternando as elipses, Luchetti escusa-se a qualquer indulgência ou ternura para com qualquer dos quatro membros do núcleo familiar. Todos eles capazes de lamentarem não terem optado por percursos alternativos, mas sem talento, nem força, para neles terem apostado.

Como saldo fica uma casa devastada, resultado de uma fútil destruição, que nada comporta de potencialmente redentora, porque, pelo contrário, nela subsistirá pérfida ratoeira capaz de agravar o que já se conclui em tão sombrias circunstâncias.

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