quarta-feira, novembro 23, 2022

Miolo: uma inexplicável forma de religiosidade

 

18 de novembro de 2022

Deleito-me com o maravilhoso registo do Concerto para Violino de Beethoven, tal qual Anne-Sophie Mutter e Herbert von Karajan o interpretaram em 1984 com a Filarmónica de Berlim. Porque, embora haja quem lhe critique o amaciamento de asperezas deixadas pelo compositor na partitura, há a sensação de perfeição tal qual a pretendida pelo maestro, que produziu a gravação como se de testamento se tratasse, ademais com aquela miúda de vinte anos por quem sentia uma cumplicidade paternal. Porque é notório o assumido apagamento do narcísico Karajan para que Anne Sophie melhor exprima o incomparável talento na lenta, muito lenta, interpretação como se nos devêssemos ater a cada nota, ouvindo-a extasiadamente, uma a uma.

Mesmo para um ateu, como me confesso, há como que o reconhecimento de uma forma de religiosidade sem nome, mas pressentida como exequível. 

Sem comentários: