Se, conforme diz Fernando Pessoa, ler também é sonhar pela mão dos outros, o livro de Rui Cardoso Martins satisfaz perfeitamente esse pressuposto.
O que fazemos, quando sonhamos?
Se aceitarmos a lógica freudiana, exacerbamos os nosso receios e inquietações, procurando para eles a adequada catarse. Ora «Deixem Passar o Homem Invisível» encontra clara correspondência num dos mais estereotipados pesadelos infantis: aqueles em que nos víamos cingidos num espaço para onde nos pretendíamos ir esconder e de onde já não conseguimos sair.
Um pesadelo, que encontra paralelo em adultos, quando vemos por exemplo as imagens televisivas de gente soterrada sob efeito de terramotos ou de deslizamentos de terras. Nessas alturas soa em nós a campainha de alarme do mais claustrofóbico dos terrores íntimos.
A leitura satisfaz, pois, a necessidade catártica de vermos realizados os sonhos mais inacessíveis ou de nos livrarmos dos terrores por que nunca quereremos passar.
Num sentido ou no outro, a literatura de viagens ou os romances de Stephen King são exemplos lapidares de uma escrita orientada, não só para o entretenimento de quem a lê, mas sobretudo para dar asas às ambições e aos medos colectivos, mesmo que vividos individualmente.
E a literatura também é isso!
Sem comentários:
Enviar um comentário