Pode parecer que a legislação recentemente publicada no sentido de defender os direitos dos animais em circos ou na posse de privados possa parecer demasiado fundamentalista. Moralista até. Mas que ela vai no sentido de uma tendência histórica da relação do Homem com a Natureza, que o rodeia, não sobram dúvidas.
É à medida que vai sentindo apertar-se a estreita via entre a sua sobrevivência enquanto espécie e a sua definitiva extinção, que esse Homem colectivo vai ganhando consciência da necessidade de se livrar da postura de predador irracional e perspectivar a forma de se entender parte de um mundo aonde a sustentabilidade é requisito de futuro.
A progressiva noção de se defenderem os direitos dos animais decorre dessa evolução conceptual sobre a sua posição no seio do planeta: já não como protagonista, mas como personagem acessório.
Quando surgem as catástrofes sob a forma de terramotos, furacões ou erupções vulcânicas, o Homem tem consciência súbita da sua pequenez perante a vontade indómita dessa Natureza, que costuma menosprezar. Mas é ao sentir-se nessa menoridade, que poderá olhar à volta e respeitar a tal diferença, que tanto execram os tais moralistas. Os tais para quem os sentimentos de um cão ou de um gato não se podem equivaler aos de uma pessoa. E por isso os abandonam nas auto-estradas, quando partem para férias.
Se a Ocidente já começa a ser consensual a necessidade de se preservarem baleias e golfinhos, de se acabar com o genocídio anual das focas canadianas ou de se proibirem em definitivo as touradas, ainda resta um longo caminho por cumprir até se chegar à última das consequências: a de julgarmos indecoroso o consumo de carnes e peixes de cujo martírio nos alheamos, quando os vemos cozinhados no prato. Mas que a tendência civilizacional aponta para um futuro macrobiótico a nível alimentar não restam grandes dúvidas.
Resta que a Oriente, particularmente na China e no Japão, esse atraso civilizacional é ainda maior. Mas torna-se clara a capacidade de imitação das modas deste Hemisfério, que ali são prontamente replicadas como sendo as adequadas. Por isso se a Europa se tornar paladina desses direitos depressa os verá adoptados noutras latitudes.
Em questões civilizacionais não há que temer a condição de pioneiro!
Como escreve Leonel Moura no «Jornal de Negócios» a questão dos direitos dos animais é matéria de civilização humana. À medida que as sociedades evoluem tende a aumentar a consciência da devastação e sofrimento que a acção do homem provoca nas restantes espécies que connosco partilham o planeta. Essa evolução é lenta, mas inexorável.
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