O Teatro Meridional confirma ser, hoje, um dos mais fascinantes projectos artísticos de Lisboa. Os seus espectáculos continuam a surpreender pela originalidade e pelo experimentalismo em relação a novas formas de expressão.
Essa ânsia de vanguardismo surge logo no título da mais recente peça estreada nas suas instalações: «VLCD - do lugar onde estou já me fui embora».
O tema é o da velocidade a que somos coagido no nosso tempo, que nos prejudica a capacidade de ver, de pensar … até mesmo de sentir. Dando, pois, razão ao provérbio italiano citado no programa: «O Homem mede o tempo e o tempo mede o Homem.»
O tempo acelerado que aumentou a produtividade e a qualidade do consumo de bens materiais, mas igualmente a infelicidade de quem nele se perde.
Tanto mais que a competição fomentada socialmente enquanto forma de realimentar, em contínuo, essa obsessão pela velocidade, enaltece sempre o mais rápido. Independentemente da qualidade ou da beleza do que nesse lapso de tempo se concretizou…
Num século desumanizado todos se empurram para chegar o mais cedo possível ao emprego, tornando-se hediondas todas as possibilidades de colocar pauzinhos na engrenagem.
A proposta da companhia teatral sedeada no Poço do Bispo passa por abordar esse frenesim pelas vivências de quatro palhaços, uns mais do que outros, adaptados a tais regimes de produção.
Como diz o programa: «Destas premissas nasceu um espectáculo, feito do encontro de todos os seus criadores. Um espectáculo edificado e projectado dramaturgicamente no espaço contemporâneo dos ensaios e que também ele se debateu, na sua fase de criação, com as mesmíssimas questões que eram, afinal, o seu objecto. Da alegrias, descobertas, dificuldades e também tanta angústias resultou uma oportunidade de crescimento. e de valorização humana inesquecível.»
Graças a um belíssimo naipe de actores, dos quais ressai Carla Maciel, passamos em revista os grandes problemas sociais do nosso tempo e a forma como reagem os que a eles se vão procurando adaptar. Com maior ou menor sucesso…
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