domingo, setembro 07, 2008

MANIPULAÇÕES MEDIÁTICAS

Acredito que um dos piores serviços, que as televisões e as rádios têm dado à democracia é abrirem os seus altifalantes à liberdade de expressão dos seus espectadores ou ouvintes. Porque quem tem tempo para se colocar na posição de opinador nesses espaços são os reformados e os desempregados, que se colocam na posição de vítimas de uma sociedade injusta, capaz de os empurrar para a inactividade entediada a troco de magras pensões ou subsídios. E são esses estratos sociais os apoiantes de formas lineares de fascismo expressas em repúdio dos políticos, em apelos à pena de morte contra os criminosos ou à expulsão dos imigrantes.

Não faltam nesses fóruns quem enuncie saudades de um passado idílico em que havia «ordem e sossego», forma eufemista de glosar a admiração pelo ditador de Santa Comba que, para nosso indignado descontentamento, ainda continua a ser herói virtuoso para muita gente.

Que os jornalistas aceitem esse tipo de concepções como raiz ideológica da sua versão da realidade, eis o paradoxo do que têm sido os títulos de caixa alta nos telejornais das últimas semanas. Às tantas até o mais defendido dos espectadores contra esse tipo de manipulação mediática acaba por se interrogar se, efectivamente, e de um momento para o outro, o país virou terra sem lei.

É evidente que não é assim: muitas dessas notícias apenas mereceriam nota de rodapé em jornais sensacionalistas, mas nestas últimas semanas deram ensejo a umas quantas pessoas saírem momentaneamente do seu anonimato para viverem os seus quinze ou vinte segundos de glória: precisamente aqueles em que se tornam protagonistas de uma ocasional entrevista em horário nobre das televisões…

Sem comentários: