quarta-feira, fevereiro 14, 2024

Histórias Exemplares (XII) - Vincent nas turfas

 

Conhecer a terra natal foi o propósito de Vincent Van Gogh quando, em setembro de 1883, foi passar três meses na zona das turfeiras de Drenthe. Essa estadia é quase sempre ignorada na sua biografia porque, além de curta, também se mostrou particularmente sombria, levando-o a optar por cores bem diferentes das que viria a utilizar em França. E havia boas razões para isso: estava deprimido, incomodado com a solidão e a meteorologia também não ajudava.

Com trinta anos Van Gogh  vira fracassada a carreira como pastor protestante e a relação amorosa com uma jovem de Haia, aspirando a converter-se no pintor dos camponeses da região menos industrializada, mais provinciana, do seu país, buscando o absoluto de que a igreja e o pai o tinham dissociado.

Inicialmente ficou tão entusiasmado com o que considerou um paraíso, que encarou a hipótese de ficar em Drenthe durante um ano para captar a luz das quatro estações. Particularmente quando fez uma viagem de seis horas num canal a bordo de uma barcaça.

A incapacidade em comunicar com os habitantes, que o acharam bizarro escusando-se a servir-lhe de modelo, mas sobretudo os rigores da invernia, dissuadem-no do projeto inicial depois de presenciar, e pintar, o esforço sobre-humano dos mais humildes nos campos de turfa. Por essa altura o dinheiro também se lhe encurtara rapidamente e decidiu partir para a fase seguinte da sua vida. Mas levando consigo um sentimento fraterno por quem tanto vira sofrer para garantir uma sobrevivência miserável... 

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