quinta-feira, fevereiro 18, 2016

ESTÓRIAS DA HISTÓRIA: Evocar Hughes Lamennais

Praticamente esquecido, Hugues Lamennais é um escritor relevante do século XIX francês pela sua visão muito pessoal do cristianismo, que lhe valeu sérios aborrecimentos com o Vaticano.
Em 1832 o papa Gregório XVI já o condenara devido às posições subscritas no jornal «L’Avenir», que fundara dois anos antes com os seus amigos Lacordaire e Montalambert. O pior viria, porém, depois, quando entrou em rutura com tais cúmplices e se retirou para a sua propriedade em Dinan onde, em poucos dias, escreveu uma violenta crítica ao clericalismo.
Apocalítico, violento, escaldante, «Paroles d’un croyant» adota o tom bíblico dos Salmos do Antigo Testamento para reivindicar o direito à Liberdade, a todas as Liberdades: a política, a de consciência, a da igualdade entre os homens.
Lamennais denuncia a evidência de, ao longo da História, os fracos sempre terem sido enganados pelos poderosos e as nacionalidades pelos tiranos. Por isso apela à revolta apaixonada contra o Estado e contra a Igreja, ambos conluiados para melhor oprimirem os fracos.
Só a fraternidade entre os homens poderia redimi-los e essa seria para ele a verdadeira e esquecida fé cristã. Aquela que fora corrompida por quantos só se tinham preocupado com os seus interesses particulares.
Nesse sentido Lamennais pode integrar-se no exíguo número de precursor dos ideais democratas-cristãos, se não mesmo socialistas.
Escrito em prosa, mas dividido em versetos, o livro aborda a solidariedade no capítulo VII (“quando uma árvore está sozinha, é sacudida pelos ventos”), a pobreza no IX, a angústia e a miséria humanas no XVIII e, o particular mente belo trecho sobre o exílio no XLI.
Entendido como um dos discípulos de Chateaubriand, Lamennais conheceria com este livro, publicado em 1834, um enorme sucesso editorial, apesar da reação furibunda da Igreja.
Catorze anos depois, pouco antes de morrer, Lamennais ainda desempenharia cargos públicos na sequência da efémera Revolução de 1848, que terá sido a última tentativa por ele vivida de criar uma sociedade mais conforme com os seus ideais.

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