terça-feira, fevereiro 16, 2016

DIÁRIO DAS IMAGENS EM MOVIMENTO: «Valley Of Love» de Guillaume Nicloux

Eis uma história de amor iniciático sobre a parentalidade, a culpabilidade e a espiritualidade. É o 15º filme assinado por Guillaume Nicloux, que além de ter o mesmo nome do defunto filho de Dépardieu, escolhe Isabelle e Gérard para personagens. E para prosseguir na mesma lógica acresce que, numa história em que os dois protagonistas já não se viam há mais de trinta anos, a última vez em que Isabelle Huppert e Gérard Depardieu tinham contracenado juntos tinha sido em «Loulou» em 1980.
Sob o sol escaldante do Nevada Isabelle e Gérard reencontram-se num motel depois de décadas passadas sobre a respetiva separação.
O filho, Michael, suicidara-se seis meses atrás e enviara-lhes cartas a marcar-lhes encontro para ali nessa data, sob a promessa de lhes reaparecer numa das sete atrações turísticas do Vale da Morte, que eles deveriam visitar noutros tantos dias.
Isabelle procura um sentido em tudo quanto está a viver, ao contrário de Gérard, que se revela bem mais pragmático na sua pose de alcoólico. Ademais, e porque tudo aquilo lhe parece uma brincadeira de mau gosto, avisa-a de não permanecer ali tanto tempo quanto as cartas lho impunham por ter uma consulta agendada para daí a cinco dias com o oncólogo onde espera encontrar solução para o seu cancro na bexiga.
Na segunda noite Isabelle afiança ter recebido a visita de Michael , mas Gérard atribui essa convicção a um pesadelo por muito que ela lhe mostre as marcas por ele deixadas nos punhos por onde o agarrara.
Ao terceiro dia ele confessa-lhe viver sozinho enquanto ela se diz decidida a divorciar-se do homem de quem tem dois filhos e a quem telefona obsessivamente.
No quarto dia discordam com veemência das suas opções (ou falta delas) espirituais e só se reconciliam ao recordarem o primeiro encontro.
No quinto dia, ao escalar o Mosaic Canyon, Gérard ouve uma voz a chamá-lo e, ao regressar junto de Isabelle, diz ter encontrado Michael, que garantira continuar a amá-los e perdoar-lhes tudo quanto lhes poderia apontar.
No dia seguinte é Gérard a ostentar marcas de queimaduras parecidas com as de Isabelle.
Temos assim um filme muito eficaz na forma como os personagens mais se aproximam da luz, quando se querem resguardar na sombra, em que a horizontalidade do deserto contrasta com a verticalidade com que evoluem e em que os sete dias os levam a contactar com os quatro elementos: o fogo do sol, a água, a terra do deserto e o ar do vento.
E, porque tudo tem significado, Gérard conhece a sua revelação no Mosaic Canyon, ou seja num sítio com um nome, que remete para um dos possíveis significados da palavra Moisés.

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