domingo, julho 26, 2015

PALCOS: «As Raposas« de Lillian Hellman, no Teatro Aberto

Esperei pela última representação para ir ao Teatro Aberto ver «As Raposas» de Lillian Hellman.
Tenho sempre grandes dúvidas em me deslocar àquele palco: tenho a certeza de ir ver uma boa peça, bem interpretada, melhor encenada, com meios apreciáveis investidos no guarda-roupa e no cenário, mas … incapaz de me surpreender.
Quando quero regressar a casa galvanizado por algo de inesquecível não é ali que encontrarei espetáculo disso capaz. Ao contrário do que sucede quase sempre no Bando, muitas vezes no Meridional ou no Elétrico, e algumas vezes no Teatro do Bairro ou na Barraca.
No mesmo estilo de teatro mais tradicional a Cornucópia costumava sair-se bem melhor, mas, hélas, dificilmente nos poderá voltar a dar satisfações ao nível do que nos propiciou nos seus melhores anos.
Voltemos, então, à peça do Teatro Aberto para reconhecer que o texto de Lillian Hellman era estimulante ao demonstrar como a família pode ser um cenário de guerra tremendo com ódios e falta de escrúpulos equivalentes aos dos mais impiedosos campos de batalha. E a origem dessa luta sem tréguas tem a ver com a mesma ganância, que constatáramos no personagem de Michael Douglas em «Wall Street»: o capitalismo atiça o que de pior pode haver de egoísmo na espécie humana. E que importam os ordenados justos e os direitos laborais se os acionistas das empresas querem sempre mais e mais lucros?
Escrita em 1939, a peça da escritora norte-americana mantém a devida atualidade, podendo ajustar-se perfeitamente ao que constatamos nos nossos dias.
Na interpretação, embora Luísa Cruz não seja Bette Davis (que desempenhou o mesmo papel na adaptação que William Wyler fez para o cinema em 1941) consegue credibilizar a frieza da mulher apostada em cumprir todos os seus sonhos nem que para tal avance até ao homicídio.
João Perry é  superlativo no desempenho do banqueiro a quem a doença fez vislumbrar uma realidade de que não se tinha dado conta e que descobrirá já não ter condições para mudar.
O restante elenco cumpre bem o que dele se espera nessa sucessão de crises em que os momentos de tensão quase nunca chegam a gerar outros de distensão passíveis de aligeirar o tom em que tudo ocorre.
No final o público foi comedido nas palmas, porventura por sentir que se tratou de mais uma experiência tipo chiclete: mastigou-se e deitou-se fora.  Daqui a umas semanas já poucos se lembrarão de ali ter estado a ver meia dúzia de vidas a desfilarem à sua frente durante duas horas. 

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