domingo, julho 19, 2015

DIÁRIO DAS IMAGENS EM MOVIMENTO: «La Isla Minima» de Alberto Rodriguez (2014)

Coincidindo com a movida madrilena andámos expectantes quanto ao surgimento de cineastas, que acolitassem Almodovar na expressão de um renovado cinema espanhol, capaz de agarrar no testemunho da geração de Saura e Bardem. Infelizmente e excetuando os casos quase clandestinos de Vitor Erice ou Albert Serra, o que o cinema espanhol destinado a um público mais alargado facultou foi um conjunto de títulos do género fantástico sem grande significado cinematográfico, assinado por tarimbeiros da estirpe de Alex de la Iglesia, Jaume Balagueró ou Alejandro Amenabar.
«La Isla Minima», quinto filme de Alberto Rodriguez, veio-nos chamar a atenção para um autor com potencial para nos prender o interesse, através de uma intriga policial localizada na Andaluzia selvagem e ainda nos escombros malignos do que significou o sinistro franquismo.
Pedro e Juan são uma dupla de polícias incumbidos de descobrirem os culpados pela morte de duas raparigas nas margens pantanosas do Guadalquivir. Um é jovem e idealista, o outro é um velho habituado a métodos pouco ortodoxos e com a carreira toda feita na época da ditadura. 
A dificuldade que enfrentam é a natural desconfiança das populações perante uma instituição, que aprenderam a temer, mas a não respeitar.
Para quem seguiu a primeira temporada da excelente série «True Detective», o filme apresenta notórias semelhanças no tema, já que depressa se desconfia da existência de um serial killer com muitas mais vítimas no currículo.  Mas Rodriguez utiliza as impressionantes imagens captadas de cima para criar a sensação de uma correspondência entre as sinuosidades dos meandros do rio com as das psicologias locais.
Mas não só: a juventude de Pedro e a maturidade de Juan apontam para o dualismo entre os mais velhos, que se formataram de acordo com a violência do poder e se mostram incapazes de compreender o que se passa à volta de acordo com nova grelha de leitura e os mais novos dispostos a virar em definitivo a página a um tempo, que repudiam. O filme é, de facto, passado entre a morte do ditador em 1975  e a efetiva afirmação da democracia espanhola com a vitória de Felipe Gonzalez sete anos depois.
O talento de Rodriguez não se fica por aí, já que esse lado mais contextual da intriga em nada prejudica o suspense, particularmente na perseguição noturna em que se vão sucedendo as descobertas mais macabras.
Foi, pois, bem merecida a consagração do filme com os dez prémios Goya (os óscares espanhóis), que recebeu, alertando-nos para um autor a que convirá ir prestando a devida atenção... 

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