quarta-feira, julho 29, 2015

ARTES: Berthe Morisot, uma artista subestimada (1ª parte)

Em 1941, aquando da retrospetiva de 1941 organizada no Museu de l’Orangerie, Paul Valéry considerou-a uma personalidade à parte no conjunto do grupo impressionista. Esse distanciamento tinha a ver com a sua modéstia, mas também com os constrangimentos inerentes à condição de mulher. De facto aliar esse género à pintura implicava enfrentar grandes desafios num contexto de grande ambiguidade.
Conhecida durante muito tempo como a modelo preferida de Édouard Manet, que viria a ser seu cunhado, Berthe Morisot ficou tempo demais na sombra dos seus confrades impressionistas por muito que eles a considerassem sua igual.
Ela nasceu em Bourges em 1841 e cedo sentiu-se herdeira das restrições e do conforto do ambiente burguês em que vivia. Se a mãe encorajava os primeiros passos de duas das suas filhas, Berthe e Edma, na pintura, desencorajou-as a limitarem-se a essa atividade artística, porquanto deveriam, a seu ver, privilegiar a possibilidade de criarem as suas próprias famílias.
Se Edma acaba por acatar o conselho materno, Berthe mantem-se inflexível na intenção de se dedicar exclusivamente à pintura.
A família mudara-se para Paris em 1852 para garantir aos filhos uma educação clássica facultada inicialmente pelo pintor Geoffroy-Alphonse Chocarne, e depois por Joseph Guichard, que fora aluno de Ingres e lhes inculcaria o sentido do rigor na composição do desenho.
É Camille Corot quem, corroborando os conselhos de Guichard, as inicia ao ar livre para que usufruam por inteiro a importância então reconhecida à paisagem natural.
Entre 1861 e 1863, Berthe Morisot passa algumas semanas de verão na companhia de pintores paisagistas entre Ville d’Avray e Auvers.
Infelizmente conhecem-se poucas obras de Berthe dos seus primeiros tempos enquanto artista, já que, insatisfeita, ela destruía-as com demasiada frequência.
É no Louvre, aonde passa dias a copiar obras alheias, que Berthe conhece Manet, que lhe é apresentado por Henri Fantin-Latour. Não tarda a servir-lhe de modelo para o quadro «A Varanda» (1868).
Berthe integra-se, então, numa tertúlia, que conta com Edgar Degas, Pierre Puvis de Chavanne, Mallarmé e Zola, discutindo acaloradamente sobre o sentido das novas expressões artísticas.
Uma das suas obras mais antigas data de 1871 e é um “Retrato da Srª Pontillon”, ainda muito influenciada pelos seus amigos impressionistas. Mas convicta do seu talento, Berthe Morisot dedica-se aos seus quadros com o empenho de quem pretende participar ativamente na revolução estética, que depressa se imporá aos cânones académicos.

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