Rio Negro, no Noroeste da Amazónia: aqui existe o peixe cardinal tão apreciado nos aquários domésticos dos países europeus.
Porque a cidadezinha de Barcelos não tem indústrias e a terra só permite a plantação da mandioca, a solução para muitas famílias restringe-se à pesca. Mas os mil e cem pescadores vão iludindo a miséria nas vinte e três tabernas locais, já que os peixes cardinais estão cada vez mais desvalorizados no mercado.
Nómadas no rio, eles só aportam para comprarem o necessário, o que significa um volume cada vez menor de mercadorias.
Crispim e Silvana são o casal, que a realizadora acompanha e que nunca tiveram dinheiro para arranjarem casa em Barcelos. Por esse motivo têm de deixar os filhos a parentes enquanto dura a época escolar.
A casa é, pois, o pequeno barco, o «Rio Demeni». Mas o combustível está cada vez mais caro e as dívidas acumulam-se
Crispim confessa a saudade do tempo em que os seus rendimentos eram bem maiores, porque a procura dos peixes cardinais ainda não era sujeita aos efeitos da aquacultura norte-americana e em Singapura.
De origem índia Crispim já não seria capaz de imitar os antepassados e conseguir o sustento da floresta virgem. Por isso Manaus, aonde nunca foi, está povoada de muitos antigos pescadores nas suas favelas miseráveis.
Mas nem tudo é mau: uma vez por ano, durante a Festa do peixe Cardinal a família mascara-se para participar numa festa, que alegre as almas enquanto perdura. O pior é quando ela acaba e a realidade difícil se volta a impor...
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