A personagem de José Montiel surge em dois dos contos de «Os Funerais da Mamã Grande», o primeiro dos livros incluídos na colectânea de Gabriel Garcia Marquez.
No primeiro, «A Tarde Prodigiosa de Baltasar», ele é o rico comerciante para cujo filho, o carpinteiro da aldeia cria a mais bela das gaiolas, sem que consiga por ela o devido pagamento. De facto, avarento por natureza, José Montiel culpa Paco por ter feito tal encomenda e ao artesão aponta a falta de sensatez pela aceitação da encomenda de um miúdo de dez anos.
Mas, incapaz de dar parte de fraco, Baltasar vai passar a tarde na taberna a viver as glórias de tão elogiada construção. Que merecera do próprio médico o elogio de ter sido feita pelo grande arquitecto, que ele poderia ter sido.
Nessa tarde Baltasar bebe vinho pela primeira vez e embriaga-se pagando rodadas a todos quanto o acompanham. Madrugada adentro, já sozinho e sem coragem para voltar para casa, fica prostrado numa valeta a querer perdurar o mais possível o melhor dos seus sonhos.
Montiel surge caracterizado como um pai autoritário e um rico sem escrúpulos, nunca satisfeito com os bens acumulados. Mas o conto seguinte, «A Viúva Montiel» ilustra a forma como ele enriquecera, valendo-se da sua condição de delator da ditadura, informando o sargento arvorado em alcaide de Macondo sobre quais os pobres a fuzilar na praça central da aldeia e quais os ricos condenados a abandonarem a povoação, não sem antes lhe entregarem a preços irrisórios as terras e gado.
Ao contrário do que todos teriam conjecturado, o velho Montiel é poupado a uma morte violenta, acabando serenamente na sua rede de dormir. A viúva descobre-se então sozinha, por todos abandonada, inclusivamente pelos filhos radicados na Europa e conscientes de como poderiam ter a vida em perigo se arriscassem voltar.
Resta à viúva a morte, quando a ruína já se apossara das paredes da sua outrora florescente mansão...
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