sábado, janeiro 23, 2010

«A CIDADE PERDIDA DE Z» (2)

Uma das mais surpreendentes descobertas de Percy Fawcett na sua segunda expedição na Amazónia foi a de que se pode morrer de fome no inferno verde.
Podemos estar rodeados de vegetação, que faz reinar no solo uma noite contínua, tal a altura das árvores, e nada haver para comer. Porque essa mesma vegetação está em guerra intensa pela sua sobrevivência: há lianas, que se agarram às árvores de uma forma aparentemente inocente e, chegadas lá acima, aonde está a almejada luz do Sol, começam-nas a estrangular até as matar para se alimentarem dos seus nutrientes.
Depois há as espécies venenosas, aquelas que vão causando problemas gástricos em equipas de exploradores já de si fragilizados com as febres transmitidas pelos mosquitos. Ou em que os rápidos dos rios podem suscitar afogamentos ou mortes atrozes nas bocas das esfomeadas piranhas.
Qualquer animal que se aventure à altura do solo pode ser atacado de múltiplas maneiras. E, quando morto, logo uma imensidão de formigas se encarrega dele se alimentarem até à medula.
Ao imaginarmos as expedições da Royal Geographical Society dos finais do século XIX e do primeiro quartel do século XX temos, necessariamente, de concluir haver nelas quase algo de suicidário.
E, no entanto, foram elas que tornaram quase definitivamente conhecidos todos os recantos do planeta.

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