«Geração Iraque», um filme de Barbara Necek, começa por parecer um filme ambíguo em relação ao tema abordado: o estado de alma dos jovens soldados em plena formação antes de seguirem para o Iraque. Muito jovens, nos seus dezanove ou vinte anos de idade, eles papagueiam o discurso oficial, que os torna defensores do modo de vida norte-americano ameaçado pelo terrorismo e a missão respeitosa de levar a outrem os ideais de democracia.
Esse lado propagandístico, que faz pensar numa encomenda do próprio Pentágono para justificar as suas estratégias, ainda continua bem presente, quando se constata a criação de nove ou dez aldeias no deserto junto a San Diego para dar aos recrutas as condições mais aproximadas possíveis do cenário com que se irão deparar.
Emigrantes árabes até aumentam a credibilidade de tal simulacro, ao acederem a comportarem-se como figurantes pagos a 25 dólares à hora, assumindo os personagens imaginados pelos criadores de tal megaprodução.
Mas o aliciante do filme resulta da sageza da realizadora em pôr os jovens recrutas a falar, deixando-os enlearem-se nas suas contradições. Afinal os outros estão na sua própria terra e estes ocidentais não deixam de ali chegar como invasores. «Tenho de reflectir melhor sobre o assunto!», diz um desses rapazes, confundido no que diz e silencia e a candura do olhar a dar lugar a inesperada surpresa.
E, quando a realizadora os confronta entre a inexistência de qualquer relação entre os autores dos atentados do 11 de Setembro e os iraquianos ainda mais veemente é a reacção de embaraço nos seus interlocutores.
Um filme, pois, que não deixa de ser elucidativo sobre uma das muitas realidades do país que Barack Obama se prepara para liderar...
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