terça-feira, janeiro 24, 2006

REMOTO PASSADO

Já remoto passado parece a eleição de Cavaco Silva para Presidente da República. E, no entanto, só foi ontem…
No emprego ainda houve quem aludisse ao meu eventual desagrado com o resultado, mas a minha reacção cortou qualquer hipótese de prolongar esse desconforto:
- Quase nos cinquenta anos já vivi o suficiente para perceber que às derrotas de hoje se sucedem as vitórias de amanhã e vice-versa!
Essa relativização de algo que, ainda há pouco tempo, me causaria tamanha instabilidade emocional é outro dos ganhos desta maturidade conferida pelas rugas, que se vão acentuando no rosto…
Mas é óbvio o meu contentamento com as vitórias de Michelle Bachelet no Chile ou de Evo Morales na Bolívia. Ou o regresso de Lula da Silva à liderança das sondagens. Quando é a esquerda a vencedora iludo-me com a possibilidade de estarmos no limiar de uma sociedade mais justa e fraterna. Porém, as reportagens sobre as pessoas que votaram no novo Presidente elucidam-nos bem de como esse limiar é uma meta bastante distante. Quer numa aldeia em que os 61 eleitores deram 100% a Cavaco, quer em Grândola aonde há quem se mostre indigno do símbolo representado por tal burgo, os alegres apoiantes do vencedor revelam-se velhos em idade e em ideias, iletrados e boçais. Sem qualquer semelhança com essa gente de qualidade, que surge normalmente associada às candidaturas de esquerda, sejam elas mais intelectuais como no caso dos socialistas ou dos bloquistas, ou mais genuinamente populares no caso dos comunistas.
A vitória de Cavaco não vai significar nenhum drama, mas é o Portugal mais avesso aos caminhos da História, que acaba de pôr em Belém um político em quem é difícil reconhecer convincentes qualidades...

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