sexta-feira, novembro 18, 2005

A PASSAGEM DO GRANDE NORTE


A passagem do Noroeste é a zona, a norte do Canadá, que fica mais próxima do Oceano Árctico. No Verão como no Inverno, ela está bloqueada pelos gelos.
Desde o século XVI constituiu uma terra de aventura para os exploradores à procura de uma via, que ligasse a Europa à Ásia.
Desde os finais dos anos 90, por acção do aquecimento climático, esses gelos estão a liquefazer-se com progressiva rapidez. Daqui a vinte anos, os gelos poderão já não servir de obstáculo para essa passagem do Noroeste.
Por trás das consequências económicas, que se adivinham imensas, dois parâmetros arriscam-se a ficar secundarizados: o equilíbrio ambiental e o modo de vida dos Inuits.
Jean Christophe Victor, investigador em geopolítica e autor da emissão «Les Dessous des cartes», faculta-nos aqui as suas reflexões sobre este paraíso branco ameaçado:
Daqui a dez ou vinte anos as consequências geopolíticas inerentes à libertação da pssagem do Noroeste serão diversas, a começar pelas relacionadas com os recursos minerais. A abertura dessa passagem facilitará o acesso às minas de níquel, de cádmio, talvez de urânio, e muito certamente de diamantes. E também ao petróleo.
A segunda consequência, de ordem jurídica, é o estatuto que será o das águas norte-canadianas.
Há um litígio: para o Canadá são águas territoriais, que lhe pertencem, enquanto para os EUA são águas internacionais.
A terceira consequência diz respeito ao transporte internacional: ter-se-á um novo estreito, mais curto que o do Panamá ou o do Suez, que implicará óbvias alterações à situação actual.
E o quarto desafio, que deveria ser o primeiro, é que constitui uma péssima notícia a nível ecológico.
Regularmente vamos tendo estatísticas sobre a modificação da calote glaciar da Groenlândia: os glaciares retraem-se a um ritmo facilmente detectável.
Os Inuits são duramente influenciados pelas poluições vindas do Sul. A passagem de cargueiros pelas suas costas apenas piorá o que se passa hoje. Será que se deve explorar o petróleo para que os habitantes da região tenham melhores proventos, mesmo sem se imaginar como eles poderão vir a ser distribuídos? Quando vejo o que se passou, a partir de 1953, com os Inuits da Groenlândia, já não sei que responder. A Dinamarca decidira que eles eram cidadãos com os mesmos direitos de quaisquer outros dinamarqueses. A priori trazia vantagens, a nível médico, escolar, etc… Mas quanto à economia local, constatou-se a destruição da sociedade tradicional. E depois, ao mesmo tempo que os medicamentos, chegou a cerveja e a destruição de aldeias inteiras. (…)
Interesso-me pelas expedições actuais ao Grande Norte, porque me atiça a curiosidade a evoução da sociedade Inuit. Por muito que os tempos tenham mudado. O meu pai fazia parte daquela geração, que conseguira aliar a exploração geográfica aos aspectos exclusivamente científicos.
Hoje, já não há mais exploração geográfica enquanto tal. Há sobretudo feitos individuais.

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