sábado, novembro 05, 2005

CARROS, FADOS E ESTADOS DE ALMA

Já foi publicado há uma semana, mas mantém toda a actualidade: num artigo do «Expresso», o seu colunista Jorge Fiel recordava como, há uns anos atrás, com os filhos ainda crianças, ia para o Algarve na saga de todos os Verões, quando fazia o jogo das cores dos carros vindos em sentido contrário.
Era um tempo em que a auto-estrada entre Lisboa e aquela província meridional ainda era uma miragem e em que as crianças punham os pais à beiram de um ataque de nervos com as repetitivas perguntas: «Nunca mais chegamos?», «Ainda falta muito?»
Mas também era um tempo em que esse jogo de recurso era imprevisível nos seus resultados. Porque o parque automóvel nacional era multicolorido…
Hoje, lamenta-se o cronista, não acontece assim: a maioria dos automóveis são cinzentos, nos seus diversos matizes (claro, escuro, mais claro que escuro, mais escuro que claro, etc…). E as alternativas imediatas são as que se podem esperar de tal contexto: brancos e pretos…
Eu que disso não me havia dado conta, fiz a experiência ontem, enquanto atravessava a ponte 25 de Abril no sentido Sul-Norte. E corroborei tal constatação sem margem para qualquer dúvida…
Ora, Jorge Fiel, parte de tal conclusão para outra, que a ela surge associada: nas cores dos seus automóveis, os portugueses reflectem os seus próprios estados de alma. Que estão cinzentos, acabrunhados, desesperançados em relação ao futuro imediato...
Os carros coloridos de outrora corresponderiam a um outro tempo, quando a Revolução dava azo a todas as Utopias, e o risco era encarado como algo natural…
Talvez por este desânimo presente aconteça o ressurgimento do fado: através dos discos de Marisa, de Mísia ou de Mafalda Arnauth. E que reflectem sentimentos de nostalgia, de saudade de algo que se perdeu ou que nunca se encontrou…
Deseja-se um outro tempo mais colorido e de sons bem mais animadores…

Sem comentários: