quinta-feira, janeiro 21, 2021

(DIM) Frankie, Ira Sachs, 2019

 


Quanto mais não fosse pela beleza de Sintra fotografada por Rui Poças já o filme de Ira Sachs justificaria a hora e meia, que dura a sua descoberta. Mas há também aquele belíssimo plano final em que as personagens vão até ao alto da Peninha, olham o sol a pôr-se e, depois, descem a vereda por onde subiram desaparecendo, uma a uma, do campo da câmara ao mesmo tempo, que a noite ameaça instalar-se.

O filme é, de facto, sobre o crepúsculo da vida de uma atriz francesa, Frankie, que decide reunir a família e uma amiga mais próxima para procurar dar-lhes soluções de continuidade num futuro em que já não estará presente. Aquilo que vemos é nada de substancial acontecer nas muitas conversas, que vão alimentando entre si. Mas pressente-se que, no final, o íntimo de cada um deles já mudou de sítio sem que essa mutação corresponda a algo de substancialmente diferente.

Isabelle Huppert é soberba na interpretação dessa mulher que sente as energias esmorecerem e compreende que, se nem ali, naquelas circunstâncias, consegue ser o polo em torno do qual os outros circulam, muito menos isso sucederá quando já no nada tiver desaparecido. Porque até o próprio Jimmy, seu segundo marido, que diz não ser capaz de viver sem ela, dá subtis evidências disso afinal não vir a suceder.

Numa narrativa coral em que se configuram diversas formatações de cumplicidades amorosas, avultam as despedidas e as redescobertas como sempre sucede na duração de toda uma vida.

No olhar perdido de Frankie há algo de Saramago quando, tendo as montanhas basálticas de Lanzarote como fundo e o vento a sacudir-lhe os cabelos, dizia que hoje estamos aqui e amanhã deixamos de estar. Que essa é a natureza de viver e de morrer... 

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