Em «Sonata de Tóquio», do japonês Kyoshi Kurosawa, temos a versão japonesa de muitos dos dramas vividos numa Europa donde deslocalizam muitas das suas fabricas, deixando quadros técnicos entre os 40 e os 55 anos na inevitabilidade do desemprego definitivo.
É isso mesmo, que sucede com Ryuhei Sasaki, que era director administrativo da Companhia Tanita. E é com ele e todos os elementos do seu núcleo familiar, que iremos estar acompanhados durante todo o filme.
Com Kenji, o seu filho mais novo, que não hesita em denunciar perante a aula o professor, que o injustiçou por estar a passar um manga, quando ele próprio folheia um porno-manga, quando vai no transporte de regresso a casa. Ou Takashi, o filho mais velho da família Sasaki, que, por falta de alternativas de emprego, acaba por se alistar como voluntário do Exército norte-americano.
Mas a primeira opção errada de Ryuhei é esconder a sua nova realidade da família, saindo todos os dias de casa, como se fosse para o emprego.
Encontra, assim, outros nas mesmas condições e com quem vai partilhando o almoço na sopa dos pobres ou as sucessivas entrevistas de emprego.
Se, ao princípio, lhe apareciam oportunidades minimamente aceitáveis, mesmo que muito abaixo do seu estatuto, não terá outro remédio, passadas algumas semanas, do que aceitar um emprego nas limpezas de um centro comercial.
A vida para a recatada Sra. Sasaki vai-se tornando insuportável, à medida que pressente o desastre iminente, quer pelas reacções intempestivas do esposo contra os filhos - expulsando o primogénito de casa e proibindo o mais novo de ir a lições de piano - , mas, sobretudo, quando dá com ele na fila para a comida de graça ou no seu novo trabalho no centro comercial.
É por isso que, quando raptada por um ladrão fracassado com quem passa umas horas, ela decide não voltar para casa, almejando começar tudo de novo.
Nessa mesma noite toda a família se parece esfrangalhar: Ryuhei é atropelado e fica inconsciente na valeta, enquanto Kenji passa uma noite na prisão ao ser apanhado como passageiro clandestino no autocarro aonde esperava partir para longe.
Na manhã seguinte, mais ou menos sujos, eles encontram-se em casa para um novo recomeço. Que até não será assim tão negativo: quatro meses depois, Ryuhei continua a limpar sanitas e pavimentos na catedral de consumo, mas vai com a esposa ver o filho interpretar «Clair de Lune» de Debussy nas provas de admissão Escola de Música aonde poderá aprimorar o seu elogiado talento.
Na singeleza da sua tragédia, «Sonata de Tóquio» acaba por dar ênfase à importância da honestidade pessoal dentro da família e à superação das dificuldades conjunturais procurando minimizá-las dentro do possível
Na singeleza da sua tragédia, «Sonata de Tóquio» acaba por dar ênfase à importância da honestidade pessoal dentro da família e à superação das dificuldades conjunturais procurando minimizá-las dentro do possível
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