Descoberta curiosa a que o Festival Indie nos proporcionou com esta homenagem ao universo poético de Carlos Drummond de Andrade e, em particular, à sua poesia erótica só divulgada depois da sua morte e aqui comentada e lida por cariocas de provecta idade.
O que ressalta de todo o filme é a descontracção de todos estes brasileiros para quem o sexo e o prazer são realidades perfeitamente naturais e usufrui-lo constitui uma verdadeira bênção. São eles quem melhor se identificam com as descrições pormenorizadas de Drummond a propósito do sexo heterossexual em todas as suas vertentes possíveis...
É certo que nem todos são apreciadores incondicionais da arte do poeta: duas mulheres num eléctrico não hesitam em realçar-lhe o lado misógino, ainda que superiormente bem escrito. Mas aonde o poeta conhece entusiásticos apoiantes é nos que lembram os seus tempos de boémia com nostalgia ou nos que evocam o poeta como o paradigma de um tipo de pessoas já completamente desaparecidas do Rio. Sobretudo desde que o golpe militar de 1964 instituiu a ditadura fascista e reprimiu os sinais mais interessantes de uma libertinagem até então existente.
Se alguém se incomoda com o tipo de escrita aqui em causa é uma rapariga muito jovem, cujo olhar reprova com veemência as revelações de um velho de 84 anos sobre um passado marcado por várias namoradas e amigas. Como se a descomplexada abordagem do prazer sexual deixasse de estratificar posições a partir de uma posição de género, para o fazer numa clara distanciação entre gerações.
Divertido, «O Amor Natural» constituiu, pois, uma boa descoberta relativamente a uma cineasta, que merecerá uma análise bem mais aprofundada da sua forma de transmitir a sua própria interpretação sobre o mundo que a rodeia.
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