domingo, maio 16, 2010

BOBBY CASSIDY»

Ao princípio havia um miúdo atormentado pela mãe alcoólica. Que lhe arranja um padrasto tão odioso como ela. Ambos lhe vaticinam continuamente um futuro de fracassado ao mesmo tempo, que não se poupam a dar-lhe violentas tareias.
Aos dez anos o miúdo Bobby só queria morrer.
Mas cresce e envereda pelo boxe a conselho de quem lhe quer evitar os problemas de uma delinquência quase inevitável no seu percurso posterior.
E a modalidade, que pode ser execrada pelo que tem de violento e de corrupto, correspondeu à bóia de salvação a que Bobby se agarrou com determinação nos dezoito anos seguintes. Sempre com grande sucesso, muito embora lhe fique a mágoa de não ter conseguido competir para o título de campeão do mundo de meios pesados.
O filme de Bruno Almeida, datado de 2009, é um belíssimo retrato deste homem, que fez da educação dos filhos o seu percurso de redenção, dando-lhes o tipo de infância a ele negado.
Duas terão sido, então, as razões para esse longo calvário de Bobby face a temíveis adversários: a sua afirmação perante essa mãe e esse padrasto, que ainda o viriam ver nalguns combates, fazendo-se de tardios fãs de quem tanto tinham desprezado. E propiciar aos dois filhos o melhor futuro possível e com uma dose superlativa de carinho. Objectivos, que conseguiu cumprir em pleno.
Mas os dez rounds em que Bruno de Almeida divide o seu filme não escamoteia o lado mais ambíguo de Bobby, aquele que o leva a cumprir ano e meio de prisão por envolvimento com a Mafia logo após ter abandonado os ringues. Mas, também o outro lado, o de actor capaz de um desempenho irrepreensível no monólogo retirado de um filme dos anos 50, e referente a um personagem quase caracterizável como seu possível alter ego.
O filme alterna as entrevistas com as imagens desses memoráveis combates em que, não raro, os adversários de Bobby caem no tapete. Mas o que fica é o olhar magoado de um homem para quem nenhum sucesso conseguiu debelar essa profunda tristeza de nunca ter sido devidamente apreciado, quando lhe era tão importante sê-lo.
Bruno de Almeida conforma-se como realizador a quem convirá estar doravante atento...

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