«Louise ou l’islam par l’amour», documentário de Beatrix Schwehm, mostra um incompreensível paradoxo: os pais da protagonista são cultos e liberais nos seus valores, mas não conseguem impedir a filha de se apaixonar e casar com um rapaz muçulmano, por quem ela passa a vestir-se como a mais fundamentalista das mulheres dessa cultura.
Embora procurem respeitar essa opção, esses pais sentem-se incapazes de entender essa transformação, mesmo que a busquem contestar as idiossincrasias do jovem casal pelo diálogo.
É dramática essa distinção de valores entre quem faz da vida a oportunidade para tudo compreender e equacionar e quem a considera como uma mera etapa num percurso religioso pejado de certezas. E a incapacidade de quem está na primeira dessas vias em abalar, por pouco que seja, os defensores da segunda opção em sequer suporem os seus axiomas como passíveis de ponderação.
Embora procurem respeitar essa opção, esses pais sentem-se incapazes de entender essa transformação, mesmo que a busquem contestar as idiossincrasias do jovem casal pelo diálogo.
É dramática essa distinção de valores entre quem faz da vida a oportunidade para tudo compreender e equacionar e quem a considera como uma mera etapa num percurso religioso pejado de certezas. E a incapacidade de quem está na primeira dessas vias em abalar, por pouco que seja, os defensores da segunda opção em sequer suporem os seus axiomas como passíveis de ponderação.
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Sábado ao fim da tarde perante o canal ARTE é a oportunidade para confrontarmo-nos com algumas realidades mais ou menos mediáticas do mundo actual.
No programa subordinado a grandes reportagens são três as que nos dão a conhecer o que se passa em diferentes latitudes do planeta. Em Madagáscar, por exemplo, afere-se até que ponto existe legitimidade na tomada do poder pelo novo Presidente, um jovem nascido num dos bairros pobres de Antatanarivo e tornado conhecido pela sua actividade de disc jockey na rádio.
É verdade que o anterior titular da função presidencial parecia demasiado corrupto, mas há quem se questione se Andry Rajoelina não será um mero testa de ferro de gente endinheirada da ilha cujos interesses estariam a ser postos em causa pelo projecto de enriquecimento estritamente pessoal do seu antecessor.
É verdade que Rajoelina utiliza a palavra democracia com uma ingénua franqueza. Mas a forma de a executar parece limitar-se a favorecer a livre concorrência, quando estamos num tempo em que sabemos bem o que essa concepção da organização económica suscitou…
Mudando de continente, deparamos com uma situação inesperada em plena Bolívia. Aí, em La Paz, fica a prisão de San Pedro, que constitui por si mesma uma cidade dentro da cidade. Aonde os prisioneiros vivem com as famílias e têm de trabalhar para garantir o seu sustento. Sempre controlados pelas máfias, que não deixam de estar no topo da pirâmide social em conluio com a direcção da prisão.
Que haja turistas dispostos a pagar uns dólares para visitarem esse inferno na terra, é o que mais surpreende sobre a ilimitada curiosidade dos que saem das suas casas abastadas para, em visitas organizadas por agências apostadas em explorar as mais indignas vertentes do negócio, verem a miséria alheia…
Na terceira reportagem do programa estamos no Camboja, em aldeias aonde sobreviventes do genocídio aí ocorrido vivem ao lado dos antigos khmers vermelhos responsáveis pela morte dos seus familiares.
É certo que os valores culturais são diferentes dos nossos, mas imagina-se a ambiguidade dessa convivência aonde desejos de vingança devem ser contrabalançados pelo discurso oficial do carácter imperativo da concórdia…
Já em documentário à parte, somos convidados para a extremidade oriental do continente asiático: na península do Kamchatka acompanhamos o quotidiano de uma vulcanóloga apostada em conhecer algo mais sobre a realidade turbulenta, que todos os cidadãos do planeta têm debaixo dos pés. Esse magma que, a par do calor solar, fundamenta a diferença entre o nosso planeta vivo e os que vogam silenciosos e sem vida pelo universo…
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