sábado, dezembro 02, 2006

THE OTHER FINAL

Johan Kramer realizou «The Other Final», mas o projecto era do seu amigo Matthijs que, em 2002, ficou extremamente triste pelo facto de não ver a sua Holanda natal apurada para a fase final do Mundial de futebol no Japão. Resultou daí um projecto assaz curioso por permitir a exploração da ideia de exorcizar a derrota a partir da vivência dos mais habituados a com ela lidar. Ou seja, o confronto entre as duas selecções de futebol relegadas nos dois últimos lugares da Classificação oficial da FIFA: as pertencentes ao asiático Butão e à caribenha Montserrat.
O documentário apresenta ambos os países. Montserrat ainda tem bem presente uma irrupção vulcânica, que cobriu de cinzas o antigo estádio e parte significativa dos seus terrenos de cultivo. De entre os seus 150 praticantes de futebol amador o seu treinador deverá escolher os que se deslocarão a Tinfu. Por seu lado o pequeno país dos Himalaias só muito recentemente se abriu ao exterior, mas a sua monarquia continua a explicitar um discurso político algo singular ao preocupar-se com o PIB de felicidade do seu povo. Por agora tem 900 praticantes da modalidade, que estão longe de ombrear com as preferências dos compatriotas pelo críquete.
Embora se tente promover o desporto como a oportunidade de encontro de culturas, vêm ao de cima os piores indícios de quão assim não acontecerá: o treinador de Monserrat acaba por se demitir ao negar ao poder político a decisão de escolher os titulares da selecção, enquanto do outro lado existe a rápida contratação de um treinador profissional holandês tão só morre o antecessor no cargo.
As cautelas dos asiáticos têm alguma razão de ser: em anterior confronto internacional a sua selecção fora cilindrada pela do Koweit por 20-0.
Chega a semana do jogo, quando o campeonato do Japão já vai bastante avançado. As equipas treinam, embora os visitantes padeçam de uma intoxicação alimentar, que lhes prejudica a preparação.
Quem não falta à preparação são os apoiantes das duas equipas, todos butaneses, mas unidos no entusiasmo em gritarem por quem estão incumbidos de suportar.
No dia do jogo a notícia daquele encontro singular já apareceu nos jornais de todo o mundo, que não são muito simpáticos para qualificar as duas equipas. Mas o jogo tem em entusiasmo - às vezes demasiado exagerado - o que lhe falta em técnica futebolística. E o Butão ganha o seu primeiro encontro internacional por 4-0.
No rescaldo recupera-se algo do clima pretendido com a taça em disputa a ser partilhada e com a consagração de todos quantos tinham participado no jogo.
É altura de concluir o filme com as pessoas mais díspares a darem uns toques na bola, um singelo objecto de diversão que, provou-se, é capaz de criar cumplicidades além fronteiras...

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