sábado, novembro 04, 2006

FÓSSEIS E MORAIS DE MOCRÁTICAS

Um estudo de Augusto Santos Silva, actual ministro dos Assuntos Parlamentares, a respeito da composição sociológica dos militantes socialistas, deu para concluir três aspectos principais:
· O grupo etário com maior dimensão é o dos homens de meia-idade, não sindicalizados e com formação académica limitada;
· As mulheres estão a surgir com maior frequência, já que, desde 2000, um terço dos novos militantes é do género feminino;
· Comparando as formações académicas de homens e mulheres socialistas, estas últimas possuem mais anos de escolaridade, que aqueles.
Conclui-se, pois, que estão a surgir condições para um partido mais culto e com uma sensibilidade mais apurada, que estigmatize muitos dos vícios aí criados por toda uma geração de militantes, cujo principal estímulo para a cidadania resultou de um anticomunismo primário, que ainda se revela de forma alarve em muitos dos que tomam a palavra em assembleias e reuniões internas do Partido.
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Esta semana enquanto António Lobo Antunes proferia uma atoarda do mais primário anticomunismo («Não entendo como é que se pode ser um comunista. Racionalmente, não entendo como é que se pode pertencer àquele fóssil, que ainda continua a respirar de vez em quando»), o objecto dos seus inconfessados ódios, José Saramago, manifestava ao «Nouvel Observateur» o orgulho em continuar a acreditar no futuro das suas ideias políticas: «O comunismo? Nunca existiu. Não se sabe bem o que é. Há ideais e princípios. Mas estes princípios foram desnaturados logo que começaram a ser aplicados. Não se pode, pois, dizer que o comunismo é isto ou aquilo porque, na realidade, nada se sabe dele. Na União Soviética, o comunismo era um simples capitalismo de Estado. E a China vai no mesmo caminho com a cumplicidade das potências ocidentais, tão democráticas, que aplaudem e dizem bravo, bravo. É tenebroso.»
Mas a alternativa não é melhor, se verificarmos o que constitui a «moral democrática» dos Estados Unidos. Jacques Julliard comenta a seu respeito, que «durante dois séculos , os Estados Unidos permitiram-se dar lições de moral e de democracia ao resto do mundo. O seu território estava ao abrigo da violência exterior e não havia que pagar os custos da sua suposta virtude. Desde o 11 de Setembro, acabou o excepcionalismo americano. Os Estados Unidos normalizam-se. E é triste que seja pela porta pior».
Uma porta que, aprovada pelo Senado e pelo Congresso, legitima o uso da tortura e da prisão preventiva ilimitada sob o falacioso argumento da ameaça terrorista.

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